“A.C.I.MA.” – dando continuidade ao
projeto de mapeamento dos artistas e escritores brasileiros - “Vitrine do
Artista Brasileiro no Exterior”, iniciado em setembro de 2011, com entrevistas
dirigidas inicialmente para os artistas e escritores brasileiros residentes no
exterior, dá início ao segundo ciclo do projeto de entrevistas para a “Vitrine
do Artista Brasileiro”, com os artistas e escritores associados A.C.I.MA.,
residentes no Brasil, que contribuem para a divulgação e valorização da Arte
& cultura brasileira no exterior.
O projeto “Vitrine do Artista Brasileiro”
da A.C.I.MA. abraça a arte e a cultura dos povos migrantes em todas as
suas formas e manifestações – sejam elas, musicais, literárias, teatrais, artes
plásticas, cinema, dança, fotografia, folclore, enfim, todas as expressões
artísticas brasileiras.
A.C.I.MA. entrevista o escritor IGOR BUYS
“Vitrine
do Artista Brasileiro no Exterior”
A.C.I.MA.
– Bem vindo IGOR
BUYS! Primeiramente, gostaríamos de saber um pouco
sobre você: de onde vem, qual sua terra natal? Onde vive atualmente? Além da escrita, que trabalho ou hobby desenvolve?
I.
B. – Eu sou
carioca e um bicho do Rio. Vivo e vivi aqui, na Cidade Maravilhosa, a grande
maior parte da minha vida. O Rio de Janeiro é o meu cenário e o pano de fundo
de toda a minha construção. Ou autoconstrução. Ou autodeterminação, melhor
ainda. Vivi também Pendotiba, área semi-rural de Niterói, local que adoro; e na
zonal rural do Estado do Rio, numa chácara (porque amo ruralidade). Mas nunca
me afastei muito da cidade do Rio. Não obstante, penso em viver na Europa, em
Amsterdã, terra dos meus antepassados, os Buys, ou na Europa mediterrânea.
Quanto a passatempos, não os tenho. O que
faço é o oposto de me entreter com o que ajude a passar o tempo. Procuro me
envolver com o que faça permanecer o Ilimitado de mim, i.e., as minhas emoções,
os meus sentimentos, agregado ao fluxo do tempo, e, ao mesmo passo, resistindo
a esse fluxo. Isso é uma quimera, sem dúvida. Um devaneio de Sísifo. Mas, por
outro lado, é, também, um impulso humano básico, creio, e o que, inclusive, me
leva a escrever.
A.C.I.MA.
– Como e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Sobre qual tema
você escreve? De onde vem as inspirações para suas obras literárias? Poderia
nos contar um pouco sobre seu processo criativo?
I.
B. – Comecei a escrever aos dezoito anos e meio,
após ler os estudos de Décio Pignatari sobre literatura e semiótica. Até então,
tudo indicava que me dedicaria às artes plásticas, pois passei a infância e um
pouco dessa primeira juventude desenhando. Entanto, mais ou menos, como o
personagem “Forrest Gump”, quando pára de correr, eu, de repente, parei de
desenhar. Só parei. Virei às costas e declarei: chega disso; agora vou
escrever.
E
as primeiras coisas que rabisco são poesias que guardam alguma relação com as
artes plásticas, na medida em que usam e abusam de uma escrita — ideográfica. Nessa
fase, criei uma forma que chamei de — acróstico ideográfico, e que marcou o
período.
A.C.I.MA.
– Qual foi a pessoa que primeiramente acreditou em seu talento? E qual
outra linguagem da Arte tem o seu interesse?
I.
B. – Eu mesmo acreditava bastante, quando comecei a
escrever poesias. Pensava, sempre, em levar meus versos para o Drummond e,
quando ele desapareceu, em dezessete de agosto de mil novecentos e oitenta e
sete, data que nunca me esqueceria..., me senti uma espécie de órfão. E achei
que a poesia em si tinha morrido. Não havia mais ninguém. De primeira grandeza,
pelo menos... Ninguém entenderia o que eu fazia.
Hoje,
as pessoas que acreditam no trabalho e que são essenciais para mim são as que
têm parceria comigo. A começar pela minha agente, Diana Lima, que é meu anjo da
guarda. Com ela, posso ser direto, integral; temperamental, às vezes, e ela
decodifica tudo isso por mim, assimila, e media em relação ao mundo. Através da
Diana, chegou a mim a Marina, da Vitrine Cultural, que faz o trabalho de
gerente de mídias, cuida de todo o marketing para nós, outro anjo. E veio a
parceria com a editora Scortecci, que é uma senhora empresa e eu estou muito
satisfeito com esse selo na capa do meu livro.
A.C.I.MA.
– O que você acha que seria prioritário fazer para criar oportunidades para
valorizar e divulgar o trabalho dos escritores e artistas brasileiros no Brasil
e no exterior?
I.
B. – Eu não penso
sobre mercado (literário...). Escrevi, há pouco tempo, no meu blogue — a
propósito, inclusive, dos que censuram os escritores brasileiros por publicarem
no exterior —, que a substituição do crítico literário pelo crítico de mercado
(literário...) é um fenômeno bizarro. E desastroso. Mas quem iria fazer
filologia de trabalhos comerciais; não é? O que sobra para comentar ali, a não
ser: se aquilo vende ou não vende; como está ou não está para as leis do
mercado?
O Estado deve ser parceiro das iniciativas
privadas. Hoje, vejo isso com muita clareza. E convicção. Quando os governos
progressistas do Brasil começaram a trabalhar com regimes de concessão, estive
entre aqueles que se perguntaram: o que é isso, privatização? Mas estava errado,
então: o regime de concessão e qualquer outro em que o Estado entre como
parceiro da iniciativa privada — mantendo-se como “o dono da bola” — é o
caminho. Isso está no anarcossocialismo de Proudhon, por exemplo, que propunha
o Banco do Povo e o Banco do Câmbio: duas entidades públicas, a darem suporte
às iniciativas privadas. O Brasil será, em pouco tempo, seguindo as políticas
que segue na atualidade, uma Suécia de dimensões continentais — algo nunca
visto na História, até aqui; e não pode haver melhor parceiro para os
escritores que esse.
A.C.I.MA.
– Na sua opinião, qual o maior obstáculo que encontra o escritor
brasileiro para ingressar no universo literário? Como você divulga o seu
trabalho? Onde é possível adquirir seus livros?
I.
B. – Eu sou contra a construção do estereótipo do
“escritor-espetáculo” como a única via para o êxito em fazer chegar a criação
literária ao público. Essa concepção é exacerbadamente liberal-capitalista e
inserida, pela mão dos críticos de mercado (literário...), já citados, no
processo de mercantilização da literatura, que a torna, em essência e
primordialmente: uma mercadoria. Claro: se alguém é, cumulativamente, um
escritor e um artista de palco, ótimo: pois que faça uso inteligente dessa dualidade,
não apenas para “vender seu peixe”, com palestras vazias e etc., mas para
chegar às pessoas. O maior obstáculo é essa concepção; nem é a suposta falta de
dinheiro, pois o País cresce, a erradicação da miséria e da exclusão social são
as metas centrais do Brasil de hoje, e estamos lindamente adiantados nesse
processo. Quando os escritores começarem a pretender e reivindicar parcerias
com o poder público para terem visibilidade, verba, apoio cultural, da noite para
o dia, obterão o de que necessitam.
O
meu livro “Versos Íncubos” será lançado em breve e eu estarei no estande da
Scortecci, na Bienal de São Paulo 2014, a se realizar entre 22 e 31 de agosto,
autografando exemplares.
A.C.I.MA.
– Que conselho daria a quem está dando os primeiros passos no universo
literário?
Não
tenho condição alguma de dar conselhos a ninguém sobre carreira, sobre
mercado... enfim, nada disso; sair por aí dando palestras sobre como fazer
sucesso com literatura, por exemplo, passa a anos-luz das minhas pretensões.
Tanto neste momento, como depois de algum eventual êxito.
Quem
já pode montar uma boa equipe, mesmo sem a parceria ideal, que seria com o
poder público, talvez deva procurar, primeiro, um agente literário. E, a partir
daí, não entregar nas mãos de uma editora toda a responsabilidade pela
divulgação do seu trabalho. Buscar boas parcerias, diversificadas, no País e na
Mãe Europa também, esse é o caminho por que tenho optado, e em que estou,
particularmente, apostando.
A.C.I.MA.
– Qual sua opinião sobre o momento economicamente feliz que o Brasil está
vivenciando atualmente? Segundo seu ponto de vista será duradouro? Qual é o seu objetivo literário no momento?
Há uma tentativa importante de sabotar o
momento política, social e economicamente feliz que o País vive. Essa tentativa
é parte do esforço do colonialismo no sentido de conter o processo de
multipolarização do mundo. E com esse esforço, essa Segunda Guerra Fria, vêm os
Black Blocs, o Anonymous, entre outras facções de ultradireita, de
características fascistas nítidas, formadas por mercenários e por jovens
doentes, utilizados como inocentes úteis. Mas eu creio que o Brasil está forte
o bastante para dar cabo do golpismo, da sabotagem e continuar cumprindo as suas
metas.
Meu projeto é lançar o meu nome, primeiro,
como poeta e, mais adiante, talvez, a partir de 2016, como ensaísta. E, como
ensaísta, tenho a tendência de desenvolver mais profundamente alguns dos temas
abordados nesta entrevista.
A.C.I.MA.
– Poderia nos falar um pouco sobre suas obras, seu percurso, e particularmente
sobre a experiência de divulgar suas obras no exterior?
I. B. – Publiquei, em 1999, um livro de poesias de juventude, escritas, na sua
larga maioria, entre os dezoito e os vinte e cinco anos. O livro leva o título
“Manelo de Áscuas”, e pode ser encontrado em sebos. Nos meus textos
de juventude, conversamos já, predomina aquela escrita ideográfica, que passa
ao largo do código fonético-gramatical, produzindo signos de semelhança (e —
participação, no sentido platônico) com as coisas mesmas representadas. Essa
categoria de signos, em Pierce, é chamada de ícone.
Os ícones ideográficos continuam
presentes, em alguma medida, nos textos que compilei para a construção de
“Versos Íncubos”. Entanto, nesta obra, é central a poesia que, num momento de
autocrítica, acabei definindo como — fantástica, em alusão a William Blake.
Trata-se de uma poesia muito sexual e, por vezes, apaixonada, que tem como
tônica a tentativa do eu-lírico de sugestionar a bem-amada a perceber sua
presença sensorialmente, por essa via, envolvê-la e, mesmo, — tocá-la,
alterando a química do seu sangue, se corporificando dentro dela.
Num próximo livro de poesias, devo
fazer uma síntese entre esses dois momentos da minha trajetória, que envolvem
processos bem distintos — a primeira é uma poesia cerebral; a segunda, uma
poesia de transbordamento e sucessivas revisões.
[Creio que já falei sobre o
engajamento para divulgar o meu trabalho no exterior; não?].
A.C.I.MA.
– Quantos livros você publicou? Pode nos deixar aqui uma bibliografia
(título/Ano de publicação/ Tema e público alvo/ Em uma frase a mensagem de cada
obra.
I.
B. – Citei,
acima, “Manelo de Áscuas”, que talvez, republique com o longo título “MANELO DE
ÁSCUAS e mais alguma poesia — Versos do jovem Igor Buys”. Nesse trabalho,
revisaria tudo que fiz naquela minha primeira fase poética, do jovem Igor Buys
— figura, hoje, “alterizada” e intrigante para mim... — e tentaria trazer à
tona alguma novidade.
Fora isso, publiquei, de brincadeira, em
e-book, um texto de fantasia e tive uma participação em antologia de contos,
dada como prêmio num concurso internacional, também de literatura fantástica.
Mas a literatura fantástica a que me dei, até hoje, foi marcada por alusões a
pessoas e fatos, com a intenção de conter, desde “cantadas” singelas, até
vinganças pessoais e algo cruéis — eu não faço questão de ser bonzinho, só
honrado — por meio da letra. E, em razão disso, a chamo de — minha literatura
menor, ou minha literatura parda.
A.C.I.MA.
– Se desejar deixe-nos uma mensagem, frase, reflexão ou poesia de sua
autoria, por favor!
I.
B. – Deixo a
ligação para a entrevista que dei à Vitrine Cultural, recentemente, em que falo
mais sobre o livro “Versos Íncubos” — aqui, quis aproveitar os ganchos para ser
mais político: http://blogdavitrinecultural.blogspot.com.br/2014/03/entrevista-com-o-escritor-igor-buys.html
.
E, também, o booktrailer desse mesmo livro: https://www.youtube.com/watch?v=CgdEfNYfOOo
.
RAPIDINHAS:
A.C.I.MA. – Uma saudade?
I. B. – A poesia do jovem Igor Buys.
A.C.I.MA. – Um sonho?
I. B. – Uma Suécia de dimensões
continentais...
A.C.I.MA. – Um lugar?
I. B. – Brasil. Acima de tudo.
A.C.I.MA. – Uma música?
I. B. – A do momento, contida no
booktrailer de “Versos Íncubos”: a dita “Sonata ao Luar”, de Beethoven.
A.C.I.MA. – Uma tristeza?
I. B. – Esqueci de todas, faz muito tempo.
A.C.I.MA. – Um barulho?
I. B. – Pés descalços — femininos, para
ser sustenido... —, ligeiramente úmidos sobre o assoalho.
A.C.I.MA. – Um cheiro?
I. B. – De chá preto cru.
A.C.I.MA. – Doce ou
salgado?
I. B. – Doces as pessoas; de sal a comida.
A.C.I.MA. – Destino ou casualidade?
I. B. – Destino. Não existe casualidade.
A.C.I.MA. – Quente ou frio?
I. B. – Frio.
A.C.I.MA. – Seu hobby?
I. B. – Não busco passatempos, mas
ausência de limites temporais.
A.C.I.MA. – Comida
preferida?
I. B. – Sushi.
A.C.I.MA. – O que ama?
I. B. – Eu sou (ou passo a ser) tudo
aquilo que eu amo, e tudo aquilo que eu não amo e tem lugar em mim é o meu
Oponente.
A.C.I.MA. – O que não ama?
I. B. – Idem.
A.C.I.MA. – Um livro?
I. B. – A “Crítica da Razão Pura”, de Kant,
ainda é “A Bíblia”, o primeiro passo para pensar a totalidade.
A.C.I.MA. – Um filme?
I. B. – Recentemente, revi “A Navalha na
Carne”, de 1969: tremendo.
A.C.I.MA. – Uma homenagem?
I. B. – À presidenta Dilma Rousseff e a
Camila Vallejo, empossada deputada, no Chile, esta semana.
A.C.I.MA. – Momento inesquecível?
I. B. – Todos aqueles em que injetamos o Ilimitado
de nós.
A.C.I.MA. – Três coisas
fundamentarias para ser feliz?
I. B. – Só uma: autodeterminação. Tanto
para indivíduos naturais, ou físicos, como para individuais culturais, ou
nações.
Contato: igorbuys-escritor@yahoo.com.br
Blogue de poesias:
http://poesias-igorbuys.blogspot.com.br/
Blogue de ensaios e notas: http://ensaiosde-igorbuys.blogspot.com.br/
A.C.I.MA.
– Muito obrigada IGOR BUYS. È uma honra tê-lo conosco. Parabéns
pelo seu lindo trabalho! Sucesso sempre!
A.C.I.MA.
- Conectando Mentes & Culturas!
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Para ter acesso as entrevistas e conhecer melhor essa geração fantástica de
artistas e escritores que, com Cores & Letras, estão escrevendo a nossa
história, clique nos links abaixo. Boa leitura.
EXTERIOR
BRASIL
A.C.I.MA.
Entrevista a escritora FLÁVIA ASSAIFE.
A.C.I.MA.
Entrevista o Escritor VALDECK ALMEIDA DE JESUS
A.C.I.MA.
Entrevista o Professor e Escritor FRANCISCO EVANDRO DE OLIVEIRA
(Farick).
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA http://acimamandala.blogspot.it/2013/12/acima-entrevista-hebe-c-boa-viagem-costa.html
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora GRECIANNY CARVALHO CORDEIRO
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora ANA CRISTINA COSTA SIQUEIRA
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora DULCE AURIEMO
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora JÔ MENDONÇA ALCOFORADO
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora VERA SALBEGO
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora IZABELLA PAVESI
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora SANDRA NASCIMENTO http://acimamandala.blogspot.it/2014/02/acima-entrevista-escritora-sandra.html
A.C.I.MA.
Entrevista a Escritora ROGÉRIO ARAÚJO (ROFA) http://acimamandala.blogspot.it/2014/02/acima-entrevista-o-escritor-rogerio.html
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora CRISTINA RAMOS
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora TEREZINHA GUIMARÃES
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora MIRIAM DE SALES OLIVEIRA
A.C.I.MA. Entrevista a Escritora IGOR BUYS
|
E continua...
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