lunedì 22 ottobre 2012

A A.C.I.M.A entrevista o escritor brasileiro Evandro Raiz Ribeiro, residente no Japão.









A “A.C.I.M.A.” – Associação Cultural Internacional Mandala, sediada na Itália, desde 2011está realizando o mapeamento dos artistas brasileiros residentes no exterior. Este projeto “Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior” abraça a arte e a cultura dos povos migrantes em todas as suas formas e manifestaçõessejam elas, musicais, literárias, teatrais, artes plásticas, cinema, dança, fotografia, folclore, enfim, todas as expressões artísticas brasileiras.



A.C.I.M.A. – Bem Vindo Evandro, primeiramente, gostaríamos de saber um pouco sobre você: Sua terra natal? Onde vive atualmente e o motivo que lhe impulsionou a viver fora do Brasil?

ERR Sou de Recife, Pernambuco, onde nasci em 1962. Sou descendente de Gregos por parte de mãe, de Portugueses por parte de pai e com uma raiz nordestina muito profunda (coincidentemente meu sobrenome é Raiz que vem do Grego Rhiza). Vivi minha infância, que considero ter sido muito feliz, entre os estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Aos treze anos, depois que meu pai faleceu, fui morar em Santo André, no ABC paulista. Apesar de ter passado por algumas dificuldades inicialmente, foi em Santo André que conheci pessoas maravilhosas, uma família mineira que me “adotou”, podemos assim dizer, e apesar de nenhum parentesco real, todos me tratavam como um membro da família. Há vinte anos moro no Japão, vim para cá, por causa de uma proposta de emprego interessante e também porque minha esposa é descendente de japoneses.

A.C.I.M.A. – Como foi sua adaptação e quais as maiores dificuldades que encontrou no exterior? Maiores alegrias? Contou com o apoio de alguma organização que auxilia os imigrantes brasileiros?

ERR Devo dizer que não tive problemas de adaptação, pois desde o início gostei muito do país e me adaptei facilmente. Inicialmente o grande problema foi o idioma, apesar de ter estudado algum tempo antes de vir para cá, o que estudei não serviu praticamente para nada e tive que aprender na marra. Como único estrangeiro não descendente e consequentemente sem falar o idioma, tive que superar essa dificuldade logo no primeiro mês em que cheguei. Precisei provar que o idioma não seria empecilho para exercer minha função no trabalho. Nunca contei com nenhum organização de auxílio em todos esse tempo em que estou aqui. Não houve necessariamente nenhuma alegria importante, apenas vários momentos alegres no decorrer desse tempo. Claro que ter escrito meu livro e poder publicá-lo foi uma grande alegria. A minha mais recente alegria foi ter conhecido os escritores e escritoras que vivem no exterior através do Fócus Brasil em setembro, a Londres, durante o 1° encontro de escritores brasileiros residentes no exterior.


A.C.I.M.A. – Como e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Sobre qual tema você escreve? De onde vem as inspirações para suas obras literárias? Poderia nos contar um pouco sobre seu (s) livro (s) e percurso literário? 

ERR Ler é um quesito imprescindível para escrever. Ninguém pode se tornar um escritor sem antes ter sido um bom leitor. Meu primeiro contato com a escrita se deu através da leitura. Não me recordo de nenhum momento de minha vida em que um livro não fizesse parte do meu dia. Era frequentador assíduo de todas as bibliotecas das escolas e dos bairros por onde passei na infância e depois de adulto, as livrarias e sebos no centro da cidade, os meus pontos preferidos. Ainda estou no meu primeiro livro, quero dizer, já estou escrevendo o segundo, que é um complemento do primeiro. Apesar de escrever ficção, escrevi nesse meu primeiro livro sobre coisas que presenciei, então é uma ficção sobre acontecimentos reais. Conto uma história sobre duas crianças que se encontram e se atraem por viverem uma existência solitária. Cada um encontra no outro o apoio para seguir em frente. Por ser afeicionado por histórias de vampiros, um filme sueco de vampiros, foi o start para que eu começasse a escrever. 



A.C.I.M.A. – Qual foi a pessoa que primeiramente acreditou em seu talento? E qual outra linguagem da Arte tem o seu interesse? 

ERR A primeira pessoa que levou meu trabalho a sério e me deu uma grande ajuda, foi uma jornalista brasileira radicada nos Estados Unidos, Sílvia Dutra. Ela tinha uma coluna no Portal Imprensa, que é um jornal virtual. Vi uma matéria em que ela falava sobre plágio e deixei um comentário. Naquela época, eu tinha um grande receio de cometer algum plágio em meu livro, pois havia usado o tema do filme sueco para escrever minha história. E ela se propôs a ler e comentar, e fez muito mais que isso, assistiu ao filme e disse-me que eu não precisava me preocupar porque a história era completamente original. Se basear em alguma coisa para escrever, é o que normalmente os escritores fazem, plágio é quando se copia descaradamente o trabalho de alguém. O que eu havia feito, foi escrever à minha maneira uma história sobre um tema já abordado. Foi também através de seus conselhos que consegui deixar um pouco melhor o que havia escrito, pois havia escrito muita coisa que hoje considero um monte de barbaridades.
O escritor Alexandre Lobão, foi outra pessoa que respondeu a meu contato inicial e me deu conselhos importantíssimos. Não posso deixar de agradecer a meu amigo Rubens Maeda, que é um grande empresário aqui no Japão. Ele me deu grande apoio para que eu conseguisse importar meu livro e divulgá-lo, sem visar em momento algum qualquer retorno financeiro. Também agradeço ao conselheiro suplente do CRBE Asía,  Wilson Keiiti Hayashida, que foi a segunda pessoa a acreditar em meu trabalho aqui no Japão. Foi através deles que consegui conhecer todas as pessoas que me proporcionaram ter ido a Londres em Setembro.
A outra linguagem de arte que sempre me fascinou foi a música, sempre pensei em um dia me tornar um músico profissional, mas me faltou talento e perseverança para isso.


A.C.I.M.A. – Como você divulga o seu trabalho? O que você acha que seria prioritário fazer para divulgar o trabalho dos artistas brasileiros que vivem no exterior?

ERR Aqui no Japão eu divulgo meu trabalho diretamente com o público, vou em eventos ou lugares específicos e converso com as pessoas, mostro meu trabalho, falo sobre ele. No Brasil entrei em contato com blogs literários, fiz parcerias.
Acho que o brasileiro que trabalha com alguma forma de arte no exterior ainda está muito só e por sua própria conta. É preciso criar mecanismos que apoiem mais quem está se destacando na promoção de nossa cultura, seja em qualquer modalidade que for. Acho que não é justo que exista uma comunidade com milhares de indivíduos carentes de cultura, que existam várias pessoas com trabalhos culturais expressivos e nenhum caminho que ligue o artista a essa comunidade carente.
Faço minhas as palavras da escritora Alexandra Magalhães Zeiner, que tive o prazer de conhecer no Fócus Brazil em Londres:
Para uma divulgação do nosso trabalho no exterior será necessário primeiramente o reconhecimento do mesmo. Por exemplo, a Professora Else Vieira, do Reino Unido, e a escritora Mariana Brasil, da Itália organizaram, juntamente ao maravilhoso time do evento FOCUS Brazil 2012 em Londres, o primeiro encontro de escritores brasileiros residentes no exterior. Participei do evento e sementes foram plantadas, o processo foi iniciado! Trabalhos de alto nível marcaram este encontro. Esperamos que este tipo de iniciativa possa mostrar a todos os brasileiros, dentro e fora do nosso país, a riqueza da nossa arte, espalhada pelo mundo, realizada por filhos do Brasil que optaram por viver longe de casa.




A.C.I.M.A. – Propósitos e novidades literárias? 

ERR Estou escrevendo a continuação do meu primeiro livro. Na verdade não gosto de continuações, mas muitos leitores me escreviam pedindo, então resolvi fazer. Para o ano que vem, fui convidado para participar de alguns eventos como a segunda edição do Encontro de Escritores Brasileiros no Exterior do Fócus Brasil nos Estados Unidos, para a Feira de Livros de Frankfurt, em que o tema será o Brasil; apesar da distância e dos gastos, vou me esforçar para poder participar de todos.


A.C.I.M.A. – Que conselho daria à quem está dando os primeiros passos no universo literário?

ERR Primeiro invista no seu talento, por investir eu quero dizer se preparar fazendo cursos ligados a área, se informar, se atualizar. Procure ver o que estão fazendo outros autores ligados ao estilo que gosta.  Se enturme, faça amizades com outros autores, procure por pessoas que divulguem literatura, blogs literários, etc... não fique sozinho. Envie seu trabalho para editoras que publiquem obras no estilo em que escreve. E o mais importante, jamais desista; não desanime na primeira e nem na última recusa que receber. Ter o trabalho recusado faz parte do currículo de qualquer escritor, inclusive os mais famosos. Envie seu trabalho para que pessoas capacitadas o avaliem, não adianta pedir para seu melhor amigo ou seu parente querido, eles vão sempre elogiar o que você fez, e não é disso que você precisa. Analise todas as críticas recebidas com o bom senso e não com o ego, e conserte o que precisa ser consertado.

A.C.I.M.A. – Você pretende voltar a viver no Brasil? Qual sua opinião sobre o momento “economicamente feliz” que o Brasil está vivenciando atualmente? 

ERR È claro que essa não é uma pergunta que dá para se responder de uma forma simples e generalizada, mas se for para responder nesses termos, eu acho que não tenho mais condições de voltar ao Brasil. Tenho certeza que todos os brasileiros que tiveram a oportunidade de morar em outro país, exceto em casos em que não há escolha ou em outro caso excepcional, jamais voltarão ao Brasil em definitivo. Eu amo o Brasil, sinto falta da minha terra, sinto falta dos meus entes queridos, amigos e familiares; mas no Brasil as oportunidades ainda são poucas e limitadas.
Em todo esse momento em que estou distante do Brasil, uma coisa eu tenho certeza, alguma coisa mudou para melhor, me surpreendi há algum tempo com a quantidade de amigos e parentes que ingressaram em um curso superior. Alguns que haviam abandonado a escola ou desistido de fazer um curso universitários há vários anos, para mim foi o sinal de que estão ocorrendo mudanças. Mas, o ensino público no Brasil ainda é lastimável, é preciso mais investimento em educação e saúde pública. Um profissional que não é bem remunerado, não se sente incentivado a dar o melhor de si, porque estará mais preocupado em sobreviver. É lógico, existem muitos outros setores essenciais na sociedade brasileira como um todo necessitando de investimento. Por isso, acho que ainda falta muito para que o Brasil chegue a um patamar economicamente feliz, na minha opinião, essa felicidade ainda está ao alcance de poucos.





A.C.I.M.A. – Qual é o seu objetivo no momento?

ERR Particularmente falando, é o que citei anteriormente, participar de mais eventos e encontrar com outras pessoas que divulguem nossa cultura pelo mundo. Em termos gerais, divulgar mais a nossa cultura, tentar conquistar espaços aqui no Japão e no exterior, já que não estou sozinho nessa empreitada. Unir forças com outros brasileiros espalhados pelo mundo e cobrar mais apoio aos nossos governantes, dirigentes e entidades que se beneficiam da nossa comunidade no exterior, que com certeza não é inexpressiva. Principalmente ter retorno em forma de benefício, cultural, educativo e de saúde; que são os pontos mais carentes de nossa comunidade no exterior. 

A.C.I.M.A. –  Se desejar deixe-nos uma mensagem por favor! 

ERR Gostaria de agradecer a movimentos espontâneos como o da A.C.I.M.A., Varal do Brasil e tantos outros; a entidades e pessoas que se preocupam e que estão trabalhando voluntariamente para divulgar e proteger nossa comunidade e propagar nossa cultura, seja no Brasil, ou no exterior. Essas pessoas estão sim fazendo a diferença. O meu muito obrigado!

 Rapidinhas:


ACIMA - Uma saudade?
ERR Família
ACIMA - Um sonho?
ERR Escrever em tempo integral.
ACIMA - Um lugar?
ERR Brasil
ACIMA - Uma música?
ERR Don’t let the sun go down on me.
ACIMA - Uma tristeza?
ERR Foram suplantadas pelas alegrias subsequentes.
ACIMA - Um barulho?
ERR O brado dos que não se subjugam às adversidades.
ACIMA - Um cheiro?
ERR O da comida da mamãe.
ACIMA - Doce ou salgado?
ERR Os dois.
ACIMA - Destino ou casualidade?
ERR Acredito que tudo seja casual, nada é predestinado.
ACIMA - Quente ou frio?
ERR Sou Pernambucano, adoro um calorzinho.
ACIMA - Seu hobby?
ERR Escrever.
ACIMA - Três coisas fundamentais para ser feliz?
ERR Família, amigos e realização profissional.
ACIMA - Comida preferida?
ERR Sushi.
ACIMA - O que ama?
ERR A família, os amigos e a natureza.
ACIMA - O que não ama?
ERR A injustiça.
ACIMA - Um livro?
ERR Dom Casmurro.
ACIMA - Um filme?
Let the right one in.
ACIMA - Uma frase de sua autoria?
ERR Na natureza a única regra existente é a da sobrevivência, o homem subverteu essa regra está no topo da cadeia alimentar.
ACIMA – Seu lema?
ERR Seguir em frente, independente de tudo.

ACIMA – Um agradecimento?

ERR Aos amigos e companheiros na luta diária, a Mariana Brasil e a A.C.I.M.A. pela oportunidade, muito obrigado.


Contato e-mail pessoal do autorevan@dekawriter.jp








ACIMA Evandro, muito obrigada por suas palavras e por compartilhar conosco detalhes de seu romance:    Não deixe o sol Brilhar em Mim...

Luz ... Sempre mais luz...











Lançamento Antologia Vozes & Voci 2012 – 29 e 30 novembro 2012 – Milão.



O lançamento na Itália, da Antologia Bilíngue “Italiano & Português” Vozes & Voci 2012, será nos dias 29 e 30 de novembro 2012 a Milão.





Agenda:

Dia 29 de novembro – Horas 17:00 Libreria Internazionale di Milano – Il libro.
Dia 30 de novembro – Libreria Azalai di Milano. Horas 16:00
Dia 30 de novembro – Confraternização no Bagutta.

Nota: Bagutta è um local mítico de Milão, localizado há poucas centenas de metros do Teatro Scala. Desde 1924 frequentado por escritores, editores, pintores, atores, cantores, fotógrafos, jornalistas, políticos, modelos etc... a passagem pelo Bagutta de grandes nomes estão devidamente registrados em suas paredes. Bagutta è um restaurante/Tratoria/Cenoculo/instituto que faz parte da história cultural e literária italiana, trata-se de um local íntimo, vero, único e cativante na sua originalidade, uma Trattoria a todos os efeitos, onde foi instituído (e até hoje sedia) o primeiro prêmio literário italiano: O prêmio Bagutta. Portanto, o local ideal para celebrarmos o nascimento da primeira antologia bilíngue da A.C.I.M.A. Vozes & Voci 2012.

Abaixo o link para você conhecer o histórico Ristorante/Cenacolo Bagutta.



Para maiores informações: associazionemandala@hotmail.com

lunedì 15 ottobre 2012

A.C.I.M.A. Entrevista a escritora Rosemary Mantovani, residente na Itália.







A “A.C.I.M.A.” – Associação Cultural Internacional Mandala, sediada na Itália, desde 2011 está realizando o mapeamento dos artistas brasileiros residentes no exterior. Este projeto “Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior” abraça a arte e a cultura dos povos migrantes em todas as suas formas e manifestaçõessejam elas, musicais, literárias, teatrais, artes plásticas, cinema, dança, fotografia, folclore, enfim, todas as expressões artísticas brasileiras. 





A.C.I.M.A. – Bem vinda Rosemary Mantovani, primeiramente, gostaríamos de saber um pouco sobre você: de onde vem, qual sua terra natal? Onde vive atualmente e o motivo que te impulsionou a viver fora do Brasil?

Rosemary Mantovani – Nasci em Muqui no Espírito Santo, ES, e logo meus pais se transferiram para a "capital secreta do mundo", Cachoeiro de Itapemirim, também no ES. Depois, passei no vestibular da Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (UFES) e assim me mudei para Vitória, capital do Estado, para estudar. Sou Bacharel em Economia, mas trabalhei muitos anos como Analista de Sistemas; depois tornei-me empresária, vendia computadores, desenvolvia sistemas (programas de computadores) para empresas e dava treinamentos na área de informática. Já um pouco cansada de computadores, resolvi me dedicar ao Jornalismo e, quando fiquei mais inteligente um pouquinho, comecei a trabalhar com fotografia/textos e criei uma revista ligada ao mundo dos cavalos, chamada “HORSEMANIA”. Finalmente tinha vencido minhas barreiras e iniciado a trabalhar com o que me dava prazer e não dinheiro. Sempre tive facilidade em ciências exatas, mas a minha grande paixão era e é o lúdico, a arte, a escrita... o imaginário fazendo-se real.
Misturando as respostas das duas últimas perguntas, sempre tive vontade de me mudar para Itália, mas em 1988, quando estava me organizando para isso, engravidei de meu terceiro filho, o que não estava em meus planos, como também não estava em meus planos que ele fosse um filho com necessidades especiais. Geralmente, essas coisas acontecem com um filho de um amigo do amigo, nunca com a gente. Bem, os problemas com meu filho se iniciaram quando ele tinha 11 meses de idade, depois que ele teve uma gastroenterite. Devagar, bem devagar, fui entendendo a extensão do problema e finalmente, quando ele completou 7 anos de idade, tive a diagnose: meu filho era AUTISTA (http://www.rosemarymantovani.com/autismo_14.html). Bem, não vou entrar em mais detalhes, pois a história é longa e nem dá para dizer que foi a partir daquele momento que minha vida mudou, porque a minha vida já tinha mudado desde que percebi que Saulo, o meu filho especial, era diferente dos irmãos dele. Lutei desesperadamente no Brasil para uma vida melhor para esse filho, uma escola onde ele pudesse frequentar e aprender alguma coisa para melhorar sua qualidade de vida. Infelizmente, o Brasil não me deu nada nesse sentido. Vivi cada segundo de minha vida para esse filho, dando murros em ponta de faca, até que um dia decidi vir para a Itália. Justamente por esse filho que um dia não me permitiu vir (ironias da vida?). Meu marido, na época, duvidou que eu deixasse o Brasil sozinha com o Saulo para, segundo ele “me aventurar”. Resumindo, deixei meus pais já idosos, marido e uma filha no Brasil. Meu filho mais velho já morava em Londres, veio à Itália e alugou uma casa para mim, dando-me um empurrão inicial. Saulo completou 18 anos aqui na Itália. Morei na grande Milão onde ele frequentou um centro diurno, mas sou muito exigente e não estava satisfeita, chutei o pau da barraca de novo e estou há quase um ano na Toscana, onde meu filho frequenta um centro diurno especializado em autismo. Estou muito satisfeita. Saulo está muito bem e me parece feliz. Trocando em miúdos, a minha decisão de viver fora do Brasil foi a possibilidade de uma vida melhor para meu filho e, por tabela,  ainda vivo em um país que valoriza a arte de um modo geral.

A.C.I.M.A. – Como foi sua adaptação na Itália? Quais as maiores dificuldades que encontrou? As maiores alegrias? Contou com o apoio de alguma organização que apoia os imigrantes brasileiros?

Rosemary Mantovani – Eu sou ítalo brasileira, o que não significa realmente nada perante os italianos, mas com meu jeitinho brasileiro acabei conquistando muita gente. A minha adaptação na Itália deu-se de uma maneira muito natural, na verdade, sempre amei a Itália e curti desde pequenininha as histórias de meus pais e avós sobre este país. Então, era como se uma parte de mim tivesse sempre vivido aqui, não sei lhe explicar...
As maiores dificuldades que encontrei estão relacionadas ao emocional. Em Milão, por exemplo, onde vivi por mais de cinco anos, as pessoas são muito frias, não são habituadas a ir à casa da gente, a telefonar etc. Mas eu realmente não posso reclamar tanto, pois ainda assim acabei fazendo muitas amizades com pessoas que se preocupavam comigo e com meu filho, pois sabiam que vivíamos sozinhos aqui. Em poucos meses, já conhecia muitas pessoas. Agora, moro há pouco tempo na Toscana (moro em Pistoia, perto de Florença) e as pessoas são bem mais abertas. Ainda não conheço todos, porque a cidade é bem grande, mas acredito que dentro de mais uns meses já conhecerei mais da metade da cidade, ahahahahahahah...
Profissionalmente falando, minhas maiores alegrias foram: publicar, na Itália, meu livro “MEMORIE DI UN PENSATORE IRRAZIONALE” e, no ano passado, ganhar um prêmio nacional de cinema com meu documentário “E-MAIL PER LAURA”. Este último me enche de orgulho, pois ganhar um prêmio desse valor na Itália, que é famosa pela qualidade de seus filmes, me faz sorrir sozinha até hoje de tanto prazer e emoção. Na verdade, ganhei dois prêmios: o dos jurados e do público presente e, só para se ter uma ideia, um dos jurados que escolheu meu documentário, Bruno Fornara, faz parte do júri do festival de Veneza. Nesse concurso, estavam concorrendo também vários profissionais do cinema italiano. Acho que tenho motivos para estar orgulhosa. Mais recentemente me tornei membro da Academia Cachoeirense de Letras e um dia depois também da Academia de Letras do Brasil - Seccional/Suíça, o que mostra o reconhecimento do meu trabalho também no país onde nasci.
Eu não contei com nenhuma organização que apoia imigrantes brasileiros, nem sei se existe aqui na Itália. E sinceramente, nem pensei em procurar.








A.C.I.M.A. – Como e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Sobre qual tema você escreve? De onde vem as inspirações para suas obras literárias?

Rosemary Mantovani – Eu fazia poemas e escrevia músicas desde que fui alfabetizada e escrevi meu primeiro livro entre os 12 e 13 anos de idade. Mas, falando de publicações em livros, minha primeira experiência se deu em outubro de 2001, quando fui convidada a participar de um livro sobre cavalos,  escrevendo toda a parte de equoterapia, tanto técnica quanto emocional.
Eu escrevo sobre tudo em que acredito, não tenho um tema específico, apesar de a maioria dos temas sobre os quais escrevo versarem sobre a vida e seu cotidiano, acho que é porque amo a vida.
Minhas inspirações vêm naturalmente, me sento e começo a escrever. Em um dado momento, os personagens tomam conta da situação e conduzem o romance, meu trabalho, então, consiste em conter meus personagens, pois a maioria deles não têm medo de amar ou de sofrer, são fortes e despudorados; preciso freá-los sempre.

A.C.I.M.A. – Qual foi a pessoa que primeiramente acreditou em seu talento? E qual outra linguagem da Arte tem o seu interesse?

Rosemary Mantovani – A primeira pessoa a acreditar em mim foi eu mesma, pois jamais parei de escrever mesmo estudando e trabalhando em outras áreas. Menos de um ano antes de vir para a Itália, terminei de escrever “MEMORIE DI UN PENSATORE IRRAZIONALE” e dei para meu irmão Rosalvo Mantovani ler. Meu irmão é professor da Língua Portuguesa em uma Universidade de Vitória ES (Brasil) e ele simplesmente adorou e disse que eu deveria publicar o livro. Naquela época, porém, minha cabeça já estava na Itália e assim, dois anos depois, publiquei aqui, naturalmente, em italiano.
Outra linguagem da arte que me interessa? Na verdade são duas: fotografia e cinema. As fotos falam por si e o cinema coloca movimento em minhas falas.

A.C.I.M.A. – Como você divulga o seu trabalho? O que você acha que seria prioritário fazer para divulgar o trabalho dos artistas brasileiros que vivem no exterior?

Rosemary Mantovani – Eu acredito que quando você emana uma energia para o universo essa energia volta para você, no mínimo, com a mesma intensidade e, a partir do momento em que acreditamos em nós mesmos, o universo conspira a nosso favor. Vou contar uma história: apresentei meu livro “MEMORIE DI UN PENSATORE IRRAZIONALE” para minha Comune (Prefeitura) e sugeri fazermos uma apresentação com uma noite de autógrafo, o que eles não aceitaram. Na tarde desse mesmo dia, uma pessoa, que não me conhecia, me telefonou (ela pegou meu contato na livraria) e me fez uma proposta: ela havia comprado meu livro na livraria de uma cidade vizinha, leu e gostou muito da história. Como responsável pela biblioteca de uma cidade bem maior que a minha, me propôs fazer uma apresentação do livro e uma noite de autógrafos. Bem, acho que o sindaco (prefeito) da minha cidade se arrependeu horrores de não ter tido essa iniciativa, porque a noite de autógrafos foi um sucesso, com mais de 100 pessoas presentes (quem já fez ou foi em noite de autógrafos sabe que 100 pessoas nesse caso é muita gente), além da repercussão em vários jornais antes e depois do evento, inclusive em jornais nacionais (Itália). E aí uma coisa foi puxando outra e...a publicidade aconteceu. Como não acredito em coincidências e nem no destino, tenho certeza de que as forças e energias atuaram no universo a meu favor. Acredito que nós recebemos aquilo que oferecemos.
Bem, divulgo meu trabalho, registrando todas essas coisas, faço vídeos e publico. No YouTube, por exemplo, ao se pesquisar “rosemary mantovani”,  encontra-se meu canal onde há vários vídeos, inclusive meu documentário premiado na Itália e a noite de premiação desse mesmo filme. Ao pesquisar meu nome no Google, encontram-se várias informações que outras prefeituras (como de Veneza e Torino) publicaram. Nem eu mesma sei direito tudo o que há, sempre acho novidades a meu respeito.
Para divulgar o trabalho dos artistas brasileiros no exterior, penso que, a princípio, o melhor seria estabelecer contatos com associações culturais como a A.C.I.M.A., por exemplo. Ou outras entidades sérias e que estão preocupadas em divulgar nossos trabalhos.


A.C.I.M.A. – Quais seus propósitos e novidades literárias para 2012?

Rosemary Mantovani – Até o final do ano, se Deus quiser, pretendo lançar um livro de fotos e poesias, depois divulgo a data e local de lançamento. Aguardem...


A.C.I.M.A. – Que conselho daria a quem está dando os primeiros passos no universo literário no exterior?

Rosemary Mantovani – Olha, conselho é uma coisa difícil de se dar, mesmo porque o que funciona para um, pode não funcionar para outro. A única coisa que posso dizer é: sonhe, mas sonhe muito, acredite que esse sonho pode se tornar realidade e trabalhe, mas trabalhe bastante para esse(s) sonho(s) se realizar(em). O segredo é um só: acredite em você acima de todas as coisas.


A.C.I.M.A. – Você pretende (sonha) voltar a viver no Brasil? Qual sua opinião sobre o momento “economicamente feliz” que o Brasil está vivenciando atualmente? Segundo seu ponto de vista será duradouro?

Rosemary Mantovani – Não, não pretendo voltar a viver no Brasil por dois motivos: o primeiro deles é que lá não existe uma realidade para meu filho e se não existe para ele também não existe para mim; o segundo é que quando vivemos em uma cultura diferente, descobrimos novos horizontes e é difícil se adaptar de novo ao Brasil. Isso sem citar a violência, que me assusta muito.
Quanto ao momento “economicamente feliz” do Brasil, não vejo exatamente assim, mas sou suspeita em dizer, porque odeio política. O Brasil sempre será um país do futuro, um futuro que não chegará jamais e isso me entristece muito. Eu não sou uma pessoa pessimista, muito pelo contrário, o problema é que sou uma sonhadora realista, pois sonho com os pés no chão. Quando vejo que os políticos brasileiros não fazem nada para mudar concretamente a vida dos portadores de necessidades especiais, que não se preocupam com a qualidade de vida deles e de suas famílias, percebo o quanto as pessoas que dirigem o Brasil são atrasadas, o quanto fazem mal à sociedade. A negligência nesses casos, e em tantos outros, me dá nojo. Para mim, a maioria dos políticos são corruptos que tiveram a grande chance de mudar o Brasil e nada fizeram e agora já é um pouco tarde para se fazer algo. Como não gosto, não vejo e não acompanho política, espero, de coração, estar enganada.

A.C.I.M.A. – Qual é o seu objetivo no momento? Se desejar, deixe-nos uma mensagem por favor!

Rosemary Mantovani – Meu maior objetivo hoje, e sempre, será viver intensamente cada segundo, descobrir o mundo como se tivesse chegado aqui agora. Continuar escrevendo muito e lutar para melhorar a qualidade de vida dos portadores de necessidades especiais. Como disse, não gosto de política e muito menos sou política e isso me deixa mais à vontade para denunciar os descasos e mostrar a todos os problemas que nós, como família, e os portadores de necessidades especiais enfrentamos. Aguarde, Brasil, meu grito está chegando aí e muita gente sentirá a necessidade de tapar os ouvidos e os honestos gritarão comigo.
Vou deixar três mensagens e um porquê: acredite em você, acredite em você e acredite em você, porque se você não o fizer ninguém o fará.

Obrigada a A.C.I.M.A. e a todos vocês. Obrigada!







Rapidinhas:
ACIMA - Uma saudade?
RM - Minha família no Brasil.
ACIMA - Um sonho?
RM - Conhecer o resto do mundo.
ACIMA - Um lugar?
RM -Difícil…Paris, Londres.
ACIMA - Uma música?
RM - Como uma onda no mar (Lulu Santos).
ACIMA - Uma tristeza?
RM -O descaso do Brasil com os portadores de necessidades especiais.
ACIMA - Um barulho?
RM - Do mar.
ACIMA - Um cheiro?
RM - De amor.
ACIMA - Doce ou salgado?
RM - Salgado.
ACIMA - Destino ou casualidade?
RM - Nenhum dos dois, nós fazemos acontecer... ou não.
ACIMA - Quente ou frio?
RM - Quente.
ACIMA - Seu hobby?
RM -Fotografia.
ACIMA - Três coisas fundamentais para ser feliz?
RM - Família, coragem e amor.
ACIMA - Comida preferida?
RM - Churrasco.
ACIMA - O que ama?
RM - A vida.
ACIMA - O que não ama?
RM - A tristeza.
ACIMA - Um livro?
RM - Cem anos de solidão.
ACIMA - Um filme?
RM -Todos que me façam pensar.
ACIMA - Uma mensagem?
RM - Nunca, jamais, em hipótese alguma se importe com o que dizem ou pensem de você.
ACIMA - Uma frase de sua autoria?
RM -

Cheiro de chuva

Sinto o cheiro de chuva
que molha a terra seca.
Uma brisa passa e me toca
fazendo-me abrir os braços e respirar fundo.
De repente, num impulso de menina, abro a porta
e saio correndo para parar debaixo da chuva;
sentir as gotas molharem minha roupa, meu corpo, meu cabelo...
Há muito tempo não sentia
essa sensação, essa liberdade.
Sensação inocente de menina travessa.
Cheiro de chuva...
Sempre traz recordações preciosas.
Não sei quanto tempo a chuva durou,
não sei quanto tempo fiquei ali sentindo a chuva no meu rosto
e sorrindo com as lembranças.
Escutei minha mãe chamando: saia da chuva menina!
Foi nesse momento que entrei
correndo ainda mais do que quando saí,
esperava ver a minha mãe,
mas ela não estava ali.
Eu só queria abraçá-la
e sei que dessa vez
ela nem se importaria por eu estar molhada.
Mas ela não estava ali...o cheiro da chuva tinha acabado.
30/06/2012 – rosemary mantovani

ACIMA – Seu lema?
RM - Amar...sempre.
ACIMA – Um agradecimento?
RM - Aos meus pais (Luzia e Rafael) por terem me preparado para a vida, mesmo que eu não tenha aprendido nada.

 
ACIMA – Parabéns pelo seu trabalho Rosemary Mantovani, sobretudo, parabéns pela dignidade e coragem com que enfrente seu percurso humano...

E para conhecer melhor o trabalho de Rosemary Mantovani clique nos links abaixo.
YouTube – pesquise: rosemary mantovani, tem vários vídeos
Facebook: tem muitas fotos
Se quiser saber ainda mais, pesquise no Google: rosemary mantovani



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