A “A.C.I.M.A.” – Associação
Cultural Internacional Mandala, sediada na Itàlia, desde 2011está realizando o
mapeamento dos artistas brasileiros residentes no exterior. Este projeto “Vitrine
do Artista Brasileiro no Exterior” abraça a arte e a cultura dos povos
migrantes em todas as suas formas e manifestações
– sejam elas, musicais, literárias, teatrais, artes
plásticas, cinema, dança, fotografia,
folclore, enfim, todas
as expressões artísticas brasileiras.
A.C.I.M.A. – Bem vinda Karina,
gostaríamos de saber um pouco sobre você: Sua terra natal? Onde vive atualmente
e o motivo que lhe impulsionou a viver fora do Brasil?
Karina Martinelli – Sou de Jundiaí,
interior de São Paulo. Não tão interior pela distância, mas talvez pelos
habitantes. São muitas diferenças em pouca cidade! Mas boas, considero mais
simplista. Chamo com carinho de “terrinha”. Foi na terrinha que meus heróis
nasceram. E foi na terrinha que eu nasci, cresci e sobrevivi. Essa terrinha
abriga a maioria das batalhas que vivi. Foram guerras diferentes, mas todas
causadas pelos meus vícios (trabalho, amigos, desconhecidos) nos quais eu me
esquecia de mim! O resultado foi o desequilíbrio de serotonina ou o hipotálamo
que produziu o hormônio errado... Como funciona de fato, é explicado por inúmeras
teorias, mas todas com o mesmo nome: depressão; que é mãe de outras doenças,
como o linfoma.
Em 2010 resolvi que precisava mudar
de palco (e de batalhas). Foram tantos “começar de novo”, que precisava de
outro novo. Pessoas vão ao spa para fugir do peso ou do estresse, outros para
clinicas de desintoxicação para parar com drogas legais ou não... Eu vim para a
Irlanda! E encontrei outra terrinha. Tão verde quanto a minha!
A.C.I.M.A. – Como foi sua adaptação e
quais as maiores dificuldades que encontrou no exterior? Maiores alegrias?
Contou com o apoio de alguma organização que auxilia os imigrantes brasileiros?
Karina Martinelli – Dublin é casa, em
vários sentidos. As diferenças gritantes são caladas pelo comportamento das
pessoas - bem, no passado já que a crise mudou um pouco a população.
Os irlandeses são muito
brasileiros: receptivos, hospitaleiros, solícitos. Eles me ajudaram muito. Não
precisei recorrer a organizações de auxilio a brasileiros. Na verdade em nenhum
momento cogitei essa possibilidade. Mas acompanhei vários casos. O histórico do
consulado e das comunidades por aqui é muito bom. Tudo se resolve, e de forma
rápida. Claro que com aqueles de intenções sólidas.
Dificuldade mesmo, só para
controlar a saudade. E aceitar o que está fora do controle. O luto a distância
foi um dos maiores aprendizados, do choque ao vazio; saber que “alguns” não
estarão mais me esperando na tão querida terrinha! Mas o resultado foi ótimo,
divergiu minhas prioridades, me desapeguei dos últimos (momentos) e hoje
valorizo os penúltimos.
É o meu sobreviver, longe do meu
porto tão seguro chamado família. Decidir pelo ignorar, tolerar ou aceitar.
Viver o pensamento “light” (que faz bem) e se desvincilhar do “heavy” (que nos
deixa defensivos ou incomodados). Seguir meu código de conduta. O sobrevivente
tem um compromisso integral com ele mesmo, é um dever exercitar a vida. Caso
contrário é que nem pássaro de casa, ganha a liberdade, mas volta sempre para
gaiola. Não sai nunca da caverna de Platão.
São exercícios diários de
humanidade, princípios, escolhas e mudança de pontos de vista. Então todos os
meus dias por aqui são cheios de alegria. É o rir da chuva, comemorar o
aparecimento do Sol, o milagre de vinte e três graus num verão feito de inverno;
celebrar novos amigos, reconhecer comportamentos, renovar atitudes! Viver os
meus clichês! Todo dia sim, é um novo dia! Aqui reivindico todos os meus
direitos de eu ser eu mesma! A gente tem uma fácil adaptação quando podemos ser
nos mesmos!
A.C.I.M.A. – Como
e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Sobre qual tema você
escreve? De onde vem as inspirações para suas obras literárias?
Karina Martinelli – O quando é difícil de
saber, mesmo porque desabafar escrevendo sempre foi parte integral da minha cabeça
deslocada! Em algum momento esses desabafos se transformaram em palavras cheias
de certezas. E sem controle foram compartilhadas.
Nunca pensei em um tema ou temas,
só pensamentos escritos mesmo. As vezes vejo como contos da vida irreal tão
real! Já me explico! Eu vivo um musical. Desde sempre. São pessoas cantando e
dançando pelas ruas, mercados, cafés... Histórias e estórias que metralham
esses pensamentos! A inspiração vem de quem eu conheço e de quem eu não
conheço. Lugares, sinais, vento... Tudo é motivo! Tudo faz sentido nesse
musical. Tudo participa desse musical! E para dar espaço a novos personagens e
cenários, é necessário expressar no papel o que precisa ficar no passado (sim,
adoro o papel e a caneta, máquina de escrever então...)! Mas só aquilo que me
ajuda no presente! O resto passa mesmo!
O compartilhar com conhecidos deu
um pulo! Sem querer tornou-se um compartilhar com desconhecidos. De uma hora
para outra nasceu uma autobiografia! Parece até egoísta “autobiografia”, mas a
intenção foi de “consciência geral biografia”; alertar meus queridos conhecidos
e desconhecidos sobre viver com uma doença e a vencer outra. Evitar que uma
doença se transforme em outra! E principalmente a não se matar e a não se
permitir ser morto.
Infelizmente, parte das pessoas
temem tanto a perda que acabam se declarando derrotados. Como resultado
esquecem que é a batalha que conta e não vencer a guerra. Ficar de luto por nós
mesmos nos deixa mais doentes. Como o estar doente na sociedade, também nos
deixa mais doentes. São olhares e expressões que precisamos ignorar. Outros
exercícios diários, de percepção e relevância. E mais um mar de clichês.
Acordar e dormir passando mal. Só que acordar e dormir sabendo que amanhã vai
ser diferente. Mesmo que não seja!
E foi na terrinha que nasceu o “Não
Era Primeiro de Abril” que é o “Diário de uma ex-paciente”, que será para
sempre paciente! Tão dualista como a autora...
A.C.I.M.A. – Qual foi a pessoa que
primeiramente acreditou em seu talento? E qual outra linguagem da Arte
tem o seu interesse?
Karina Martinelli – Descobri talentos em
várias expressões de artes: arte da luta, arte da superação, arte da paciência,
arte de contrariar, arte de priorizar, arte de desvincilhar; e a arte do COMO.
Nada de “se”, só cheia de ser! E ser família. Irmã e filha! O acreditar deles,
vai além. São cinco forças sem tamanho! Além de exemplos, são razões para
sobreviver. Digo e repito, sou grata pelos meus pais me colocarem no mundo, mas
sou muito mais grata por eles não me permitirem sair dele. Pilar, fundação e
estrutura, artistas do prático e do teórico. Quando fui obrigada ao
confinamento, foram os equilibristas do bom humor, mímicos do bem estar,
mágicos da esperança. Atores em diferentes palcos: hospital, clinica e casa. Um
ano de apresentações onde o linfoma foi personagem principal. E meus cinco
elementos nunca deixaram de acreditar, desde que me conheço por gente, sempre
incentivaram e alimentaram meus sonhos. Apresentaram-me a música, a literatura,
ao cinema. Da primeira vez que fui a um museu ou até Tupã, sempre foram eles
que me encheram de informações. Influenciaram meus gostos e comportamento.
Acreditaram antes mesmo de eu acreditar.
A.C.I.M.A. – Como você divulga o seu trabalho? O que você acha que seria prioritário
fazer para divulgar o trabalho dos artistas brasileiros que vivem no exterior?
Karina Martinelli – Esse mapeamento da A.C.I.M.A. já é um passo gigante!
Pelo espaço cedido, para o conhecimento de pessoas talentosas, por registrar o
trabalho de pessoas incríveis. Nem é necessário citar nomes, talvez os cantos.
Canto de Cazuza.
Apresentar
e nos apresentar. Eu torço para que esse mapeamento seja movimentado, e que
gerem novos frutos, sites! Eu toparia iniciar um por aqui, caçando nossos
artistas. A começar pelos músicos e compositores que vieram parar nessa Dublin!
São também fotógrafos, artistas plásticos, atores.
Comunidades
brasileiras são fortes aqui e responsáveis por muitos eventos; acredito numa
integração com novas propostas de expressões artísticas. Só mais uns passos.
Bora?
Divulgar
e integrar.
O meu
trabalho entrou em processo de divulgação recentemente e “interneticamente”.
Antes foi uma obra do acaso ou destino, não vou saber nunca, por isso acredito
nos dois! Longa história, curta versão: confinamento, não podia conviver com
pessoas, encontrei no blog uma maneira de informar meus amigos que estavam tão
longe, mas gostariam de estar perto. Só que era fechado, mesmo porque não
queria repercussão quanto ao estar doente, pois as pessoas passam a te tratar
como doente. E em um dia de chuva, meu pai o leu. Imprimiu e sem me avisar
entregou a um amigo. Este por sua vez era dono de uma editora. Curada e
querendo a tal vida normal, fui encontrar esse amigo! O Márcio, que me
surpreendeu com a proposta de fazer um livro. Então com três perspectivas diferentes
sobre meu amigo inimigo, nasceu o livro, publicado pela In House, patrocinado
pela Sther, apoiado pelo Jornal da Cidade, Jornal de Jundiaí e o Bom Dia, um
lançamento maravilhoso proporcionado pela Sandra Setti e que me rendeu um
programa regional na TV JAPI... Tudo aconteceu e acontece muito rápido.
Agora
são as oportunidades que aparecem perto da porta que estou puxando para dentro
de casa! Acredito na necessidade da integração: entre mídias, intercâmbio entre
Brasil e o resto do mundo, registro de pessoas e obras... De novo, divulgar e
integrar!
A.C.I.M.A. – Propósitos e novidades
literárias?
Karina
Martinelli – Infinitos propósitos. Incansáveis novidades! O forno sempre está
ligado! Assando!
A inspiração crescendo e transbordando nos novos
blogs. Claro, apaguei o que era antigo! Tudo novo! E tem o próximo texto que
será publicado na Antologia da REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras), Mulheres
da Floresta!
E vai que a carreira de jornalista venha...
A.C.I.M.A. – Que conselho daria à quem
esta dando os primeiros passos no universo literário?
Karina
Martinelli – Acredite-se. Não tema. Compartilhe. Coragem é consequência!
A.C.I.M.A. – Você pretende voltar a viver no
Brasil? Qual sua opinião sobre o momento “economicamente feliz” que o Brasil
está vivenciando atualmente?
Karina Martinelli – Eventualmente voltarei
a viver no Brasil. Amanhã ou daqui alguns anos. Ainda tenho pendências pessoais
por aqui! E algumas profissionais também.
Mas o Brasil é o Brasil.
Incomparável LAR. Família, céu, clima, pessoas, heróis... Características tão
nossas que claro me leva sempre de volta. E de volta estarei!
E é bom acompanhar todas as suas
mudanças. Nas idas e vindas, notícias e conversas. E minha opinião sobre esse
momento é mais dualista do que eu.
A.C.I.M.A. – Qual é o seu
objetivo no momento?
Karina Martinelli – Ter novos objetivos.
O principal é poder espalhar
solidariedade. Divido alguns dos ideais do Dr. Aguinaldo de Bastos, como o da
Lei da Consciência Cidadã da Igualdade.
Gostaria também de poder ajudar
mais familiares e pacientes como um dia eu já fui. Auxílio algumas pessoas e
tenho plena confiança que conseguirei ajudar mais. Quero ir além!
A.C.I.M.A. – Se desejar
deixe-nos uma mensagem por favor!
Karina Martinelli – Mesmo que pareça
impossível, acredite. Mesmo que pareça deprimente, ria. Mesmo que pareça
difícil, carregue a certeza que tudo sempre será fácil. Mesmo que pareça que
tudo está perdido, ache. Caso não encontre a luz, compre uma lanterna. Caso o
túnel seja comprido, ache um atalho.
Caso o
poço esteja secando, cave outro buraco. Caso queira se esconder, pendure uma
melancia no pescoço e apareça mais. Não se importe com o certo ou o errado.
Importe-se com o que é certo e errado para você. Errar não é o problema!
Problema é cometer os mesmos erros... Não se importe com o depois ou com o
antes. Nem com o agora. Importe-se com o atemporal.
Rapidinhas:
ACIMA - Uma saudade?
LAR
ACIMA - Um sonho?
ACIMA - Um sonho?
Realizar.
ACIMA - Um lugar?
ACIMA - Um lugar?
Casa
ACIMA - Uma música?
ACIMA - Uma música?
Fala (Secos e Molhados)
ACIMA - Uma tristeza?
ACIMA - Uma tristeza?
Nilismo
ACIMA - Um barulho?
ACIMA - Um barulho?
Inclassificáveis!
ACIMA - Um cheiro?
ACIMA - Um cheiro?
Dama da Noite, no jardim.
ACIMA - Doce ou salgado?
ACIMA - Doce ou salgado?
Salgado
ACIMA - Destino ou casualidade?
Os dois
ACIMA - Quente ou frio?
ACIMA - Quente ou frio?
Primavera!
ACIMA -
Seu hobby?
Trabalhar
ACIMA - Três coisas fundamentais para ser feliz?
ACIMA - Três coisas fundamentais para ser feliz?
Família
Cachorros
Mudança
ACIMA - Comida preferida?
Da minha mãe
ACIMA - O que ama?
ACIMA - O que ama?
Viver
ACIMA - O que não ama?
ACIMA - O que não ama?
Só amo
ACIMA - Um livro?
ACIMA - Um livro?
História Sem Fim
ACIMA - Um filme?
ACIMA - Um filme?
Head
ACIMA - Uma frase de sua autoria?
ACIMA - Uma frase de sua autoria?
Sobreviver é um acidente!
ACIMA
– Seu lema?
“Não vou lamentar, a mudança que o tempo
traz, não. O que já ficou pra trás, e o tempo a passar sem parar jamais (...) E
ser todo ser, e reviver...”
ACIMA
– Um agradecimento?
Sempre
o agradecimento sem tamanho pela minha família. Por eles serem como e quem são.
ACIMA
– Muito
obrigada Karina! Parabéns! Obrigada por compartilhar conosco seu
percurso. Muito sucesso, você MERECE!
LUZ...Sempre mais luz...
Para
conhecer melhor o trabalho de Karina Martinelli visite os links
abaixo.
Contato
e-mail pessoal:
Site:
Outros links:
A.C.I.M.A.
Associação Cultural Internacional Mandala
Contato: associazionemandala@hotmail.com
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