A
“A.C.I.M.A.”
– Associação Cultural Internacional Mandala, sediada na Itália,
desde 2011 está realizando o mapeamento dos artistas brasileiros
residentes no exterior. Este projeto “Vitrine
do Artista Brasileiro no Exterior”
abraça a arte e a cultura dos povos migrantes em todas as suas
formas e manifestações
– sejam
elas,
musicais,
literárias, teatrais, artes
plásticas,
cinema, dança, fotografia, folclore, enfim,
todas
as
expressões
artísticas brasileiras.
ROSENI KURÁNYI
“Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior”
A.C.I.M.A.
– Bem vinda Roseni
Kurányi! Primeiramente, gostaríamos de saber um pouco sobre você:
Sua terra natal? Onde vive atualmente e o motivo que lhe impulsionou
a viver fora do Brasil?
Roseni
Kurányi – Sou de Petrópolis RJ. Cidade Imperial,
turística. Fria no inverno e um verão maravilhoso. Há dezessete anos vivo em
Stuttgart - Alemanha. Tranquei a minha matricula na universidade (cursava
psicologia), e imaginei voltar no máximo em três anos, e os anos, voaram... e
os três anos, não se passaram...
A.C.I.M.A. – Como foi sua adaptação e quais as
maiores dificuldades que encontrou no exterior? Maiores alegrias? Contou com o
apoio de alguma organização que auxilia os imigrantes brasileiros?
Roseni
Kurányi –
Quando cheguei na Alemanha, em dezembro de 1997, pensei: “Ah, isso aqui não é
outro mundo não”. Claro, curti a neve com as crianças; a atmosfera natalina,
como nos filmes; conhecíamos as cidadezinhas nos finais de semana e acima de
tudo, tirava fotos e fotos para mandar para os parentes e amigos. Enfim, a
época do turismo acabou, e aí, veio o idioma; a mentalidade; os costumes; e de
novo o famoso frio.
Na
verdade, penso que na maioria dos casos a adaptação é lenta, mesmo quando nós,
brasileiros, sorrimos o tempo todo, e as pessoas dizem: “Nossa ela (e) se
adaptou rápido!”, não é bem assim. Ao meu ver, a maior dificuldade é interna,
íntima e muito pessoal. São coisas aparentemente pequenas do dia a dia que
dificultam a adaptação, algumas vezes são detalhes que se contarmos para o
outro pareceria ridículo.
Uma das
primeiras coisas que fiz em Stuttgart logo que cheguei, foi estudar o idioma
alemão. Viemos com as crianças, não podia me imaginar numa situação de
emergência sem saber explicar o que estava acontecendo. E confesso, pra mim, a
alegria de cada dia sentir que estava entendendo mais e mais a língua foi muito
gratificante. Essa é talvez a questão mais importante da adaptação do
estrangeiro: APRENDER O IDIOMA.
A.C.I.M.A.
– Como
e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Sobre qual tema
você escreve? De onde vem as inspirações para suas obras
literárias?
Roseni
Kurányi
– Na verdade escrever era apenas um hobby. Quando me mudei, deixei
no Brasil meus estudos (Psicologia), e quando cheguei na Alemanha
estudei muito, também para ingressar na Universidade e terminar a
faculdade, mas na minha cidade Stuttgart, que tem tudo, não tinha a
faculdade que eu sonhava fazer, e em outra cidade, com duas crianças
em casa seria complicado e até impossível para o momento. Foi
quando me vi uma simples dona de casa.
Eu que já escrevia muito
para os meus filhos, passei a fazer isso com mais intensidade.
Mergulhava no mundo da fantasia, para tirar a tristeza de não
estudar me alegrava por produzir algo para eles. Até que, dois anos
após minha chegada, numa reunião de escola do meu filho, a
professora dele disse que ele contou que eu era uma escritora, e
contava algumas de minhas histórias na escola. Achei incrível,
meu filho já me via como escritora, enquanto eu, cega, mergulhada na
busca, querendo saber quem eu era naquele mundo tão diferente. Foi
indescritível ouvir aquelas palavras da professora. Voltei pra casa,
tirei da gaveta tudo que eu tinha escrito (à mão) e comecei a
revisar tudo. Comprei um lep top e fui passando as histórias pra
ele. Um dia, sem falar pra ninguém, mandei duas histórias infantis
e um romance para uma pessoa em São Paulo corrigir, ele disse que eu
já era uma escritora de literatura infantil. E essa mesma pessoa
(que eu até hoje não conheço pessoalmente) me indicou a uma
editora, que de uma só vez editou duas histórias minhas,
“Sexta-feira 13”,
“O Menino que queria
viver na floresta”, (e
me pagaram por elas).
A.C.I.M.A. – Qual foi a
pessoa que primeiramente acreditou em seu talento? E qual outra linguagem
da Arte tem
o seu interesse?
Roseni Kurányi – Desde cedo eu já era uma
contadora de histórias. Aprendi com o meu pai, que também criava histórias para
contar para nós, os filhos. Quando cresci, eu criava contos pra criançada da
vizinhança, para os sobrinhos e filhos. Na Alemanha fiz isso com mais
intensidade, e meu filho Rômulo deu o nome disso de escritora. Foi ele a
primeira pessoa que me viu dessa forma.
Eu
cresci ouvindo música em casa e cantando muito ao som do violão do meu irmão
William. Adoro cantar. Também amo as artes plásticas. Meu filho e o pai dele,
pintam bastante, minha casa é cheia dos quadros deles.
A.C.I.M.A. – Como você divulga o seu
trabalho? O que você acha que seria prioritário fazer para divulgar o trabalho
dos artistas brasileiros que vivem no exterior?
Roseni
Kurányi –
Dos meus primeiros seis livros publicados no Brasil (quatro infantis e dois
romances), tive a sorte de ter tido editoras que investiram neles. Não são
editoras enormes, portanto, colaborar e trabalhar pessoalmente para ajudar na
divulgação é muito importante.
Hoje
tenho minha propria editora (Árpád Editora)
Trabalho
principalmente projetos.
Faço
propaganda na mídia e nas redes sociais, visito escolas e as feiras literárias,
nacionais e internacionais etc...
Na
Europa, se o livro está em português é importante estar ligado a instituições e
associações brasileiras como a de vocês (A.C.I.M.A) e também associações em
cidades próximas de onde residimos. A união realmente faz a força. Prova disso
foi a oportunidade de estarmos na Focus Brazil em Londres, que foi possível
através do contato da A.C.I.M.A.
Acho
também importante a tradução do trabalho. O europeu é curioso e muitas
vezes interessado em saber o que fazemos. Se não for um livro, traduza um
conto, uma crônica e mostre numa associação internacional da sua cidade. Assim
as pessoas vão ter uma ideia do seu trabalho. ABRA
O LEQUE!
A.C.I.M.A.
– Propósitos e novidades literárias?
Roseni
Kurányi
– Continuar trabalhando, fazer eventos, participar de eventos.
Agora com o meu livro em alemão “Das Mädchen und der Baum”, o
LEQUE se abriu um pouco mais.
A.C.I.M.A.
– Que conselho daria à quem está dando os primeiros passos no
universo literário?
Roseni
Kurányi
– Eu acredito que, se você quer seguir um caminho, tenha pelo
menos uma ideia onde quer chegar, focando a meta, a coisa fica mais
fácil. E seja cabeça dura, siga em frente!
A.C.I.M.A.
– Você pretende voltar a viver no Brasil? Qual sua opinião
sobre o momento “economicamente feliz” que o Brasil está
vivenciando atualmente?
Roseni
Kurányi
– Amo o Brasil, e desejo que não seja só um momento, e que
melhore ainda mais. Mas a minha família ainda está aqui na
Alemanha, e aqui fiz amigos. Fui adotada e adotei a família do meu
marido. Só escrevo porque estou aqui. Escrevo porque é frio, porque
tenho saudade, porque não tenho a mesma mentalidade, escrevo porque
sou brasileira, e nós, brasileiros, somos assim, sabemos
transformar. Em nosso laboratório interno, juntamos essas coisas
“ruins” e “esquisitas” com doses de amor, mau humor, saudade,
frustrações e fazemos escritas, dança, artes plásticas, ajuda
social, música, enfim, na nossa alquimia criativa produzimos AR, ar
puro para vivermos tudo isso e sermos felizes.
A.C.I.M.A.
– Qual
é o seu objetivo no momento?
Roseni Kurányi – Publicar
meus outros trabalhos.
A.C.I.M.A.
– Se desejar deixe-nos uma mensagem por favor!
Roseni
Kurányi
– À vocês da A.C.I.M.A, eu só tenho a agradecer, pelas
oportunidades e reconhecimento que dão ao meu trabalho e a de tantos
outros escritores brasileiros residentes aqui na Europa.
Rapidinhas:
ACIMA
- Uma saudade?
RK
- Das pessoas amadas que se foram
ACIMA
- Um sonho?
RK
- Que a saúde seja sempre uma realidade.
ACIMA
- Um lugar?
RK
- Aqui e agora.
ACIMA
- Uma música?
RK
- … Este ano quero paz no meu coração, quem quiser ter um
amigo, que me dê a mão...
ACIMA
- Uma tristeza?
RK
- Todo tipo de violência.
ACIMA
- Um barulho?
RK - Uma gargalhada que vem do fundo!
ACIMA
- Um cheiro?
RK
- Cheiro de terra molhada.
ACIMA
- Doce ou salgado?
RK
- Salgado.
ACIMA
- Destino ou casualidade?
RK
- Os dois.
ACIMA
- Quente ou frio?
RK
- Quentinho
ACIMA
- Seu hobby?
RK
- Escrever
ACIMA
- Três coisas fundamentais para ser feliz?
RK
- Respeito, Amar, ser amado.
ACIMA
- Comida preferida?
RK
– Legumes.
ACIMA
- O que ama?
RK
- A vida.
ACIMA
- O que não ama?
RK
- Gente chata.
ACIMA
- Um livro?
RK
- O próximo que eu ler e gostar.
ACIMA
- Um filme?
RK
- CINEMA PARADISO!!!! (Imperdível, veja ainda hoje se puder e depois
me diga, por favor!)
ACIMA
- Uma frase de sua autoria?
RK
- “Fazer da sua solidão, dos seus medos e angústias um motivo a
mais para escrever” (2006)
ACIMA
- Seu lema?
RK
- Seguir em frente.
ACIMA
– Um agradecimento?
RK
- A Deus.
ACIMA
– Obrigada Roseni Kurányi
pela profícua contribuição que vêm dando à difusão e
valorização da literatura brasileira no Exterior.