A A.C.I.M.A.” – Associação Cultural Internacional
Mandala entrevista a escritora Josane Mary Amorim, residente na
Holanda para a “Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior”.
A
“A.C.I.M.A.”
– Associação Cultural Internacional Mandala está realizando o
mapeamento dos artistas brasileiros residentes no exterior. Este
projeto “Vitrine do Artista Brasileiro
no Exterior” abraça a arte e a
cultura dos povos migrantes em todas as suas formas e manifestações
– sejam
elas,
musicais,
literárias, teatrais, artes
plásticas,
cinema, dança, fotografia, folclore, enfim,
todas
as
expressões
artísticas brasileiras.
A.C.I.M.A.
– Primeiramente, gostaríamos de
saber um pouco sobre você: de onde vem, qual sua terra natal? Onde
vive atualmente e o motivo que te impulsionou a viver fora do Brasil?
Josane
M. Amorim – Nasci
na capital secreta do mundo: Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito
Santo; terra de Rubem Braga e do Rei Roberto Carlos. Desde 2003 vivo
na Holanda, na pacata Wezep junto com meu marido Michel Janssen, e
meu cachorro Júpter.
Em
1995, aos 52 anos a minha mãe foi vítima fatal de um acidente
automobilístico; no ano seguinte, meu único irmão, 27 anos na
época, faleceu nos meus braços, vítima de um ataque cardíaco.
Como nossa família era composta por nós três, senti-me sem chão.
Por alguns anos administrei da melhor forma possível a minha
realidade; porém, considerei que havia chegado a hora de buscar um
sentido novo para minha vida. Resolvi então investir no meu desejo
de estudar inglês na Harvard University-US.
E foi exatamente assim que se deu: fechei meu escritório de
advocacia, aluguei meu apartamento, vendi meu corsinha e fui atrás
do meu sonho!
A.C.I.M.A.
– Como foi sua adaptação nos EUA e sucessivamente na Holanda?
Quais as maiores dificuldades que encontrou em cada um deles? As
maiores alegrias? Contou com o apoio de alguma organização que
apoia os imigrantes brasileiros?
Josane
M. Amorim –
Minha
adaptação nos EUA foi a mais magistral possível; contudo não
contei com nenhuma ajuda de organização que apoia os imigrantes
brasileiros; e a bem da verdade não procurei por nenhuma, pois
naquela época nem pensei em tal regalia ou possibilidade. Estava
decidida a fazer acontecer por mim mesma, sem depender de nada ou
ninguém. Eu estava focada única e exclusivamente no meu sonho e foi
necessário muita garra e determinação para realizá-lo. Comecei
trabalhando como babá, faxineira, estoquista, e como presente de
Deus, dentro de poucas semanas consegui trabalho na mais tradicional
Gourmet
Shop
de Cambridge. Meu conhecimento na língua inglesa era básico na
época, mas isso não me intimidou. Poucos meses passaram e quando
chegou a época de me inscrever para o curso de verão na
universidade, eu estava radiante pois tinha batalhado o dinheiro para
fazê-lo. Eu não somente concluí aquele curso, mas também ganhei o
primeiro prêmio no concurso literário “The
Emanuel and Lilly Shinagel Essay Prize”,
oferecido pela universidade. O prêmio foi uma bolsa de estudos
integral para o semestre seguinte. Para resumir aqueles maravilhosos
três anos, ganhei consecutivamente nos anos seguintes o mesmo
primeiro prêmio. Tais feitos me encheram de muita alegria e orgulho,
e foram a mola propulsora para que eu investisse na minha paixão por
escrever.
Depois
que terminei meus estudos na Harvard, mudei-me para Holanda, para
viver com aquele que eu estava me relacionando [à distância], o meu
marido atualmente. Minha adaptação na Holanda foi a princípio um
tanto turbulenta, e minhas mais sinceras impressões sobre esse tema
estão registradas no meu primeiro trabalho literário, o romance
“Mevrouw
Jane”.
Considero-o um testemunho de mim mesma.
A.C.I.M.A.
– Como
e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Sobre qual tema
você escreve? De onde vem as inspirações para suas obras
literárias?
Josane
M. Amorim –
Sempre
gostei de escrever, desde menina. Depois de adulta, enquanto
advogada, trabalhava as minhas petições com esmero e certo tom
literário, se fosse possível. Todavia, foi após a conquista
consecutiva de três prêmios literários “The
Emanuel and Lilly Shinagel Essay Prize”,
oferecidos pela Harvard University-US,
que minha paixão por escrever tomou um rumo efetivamente
significante. Passei a escrever quase que diuturnamente, por puro
prazer!
Mesmo
me considerando um ‘marinheiro de poucas viagens no imenso mar do
mundo literário’, desejo que uma diversidade infinita de temas me
cative de alguma forma. O ideal é ser capaz de escrever sobre temas
variados, principalmente quando seguimos a trilha da
literatura-ficção, que é o meu caso. Creio que aí está o pulo do
gato: ser capaz de escrever sobre tudo o que está aí, a olhos nus
ou não, de forma simples e requintada simultaneamente, garantindo
sempre um tom de originalidade. Por vezes, a inspiração só se
apresenta quando estamos devotados ao processo de escrever.
Esforço-me
para que meus trabalhos literários sejam frescos,
autênticos,
inteligentes, tortuosos e repletos de conhecimentos; onde cada página
ofereça algo de humanidade, tensão, riso, surpresa, ou mesmo
êxtase! Como foi quando escrevi ‘Mevrouw Jane’ - um romance
baseado em fatos reais -, que é divertido, cheio de truques
inteligentes, permitindo aos meus leitores viajar por tantas emoções
apaixonantes.
A.C.I.M.A.
– Qual foi a pessoa que primeiramente acreditou em seu talento? E
qual outra linguagem da Arte
tem o seu interesse?
Josane
M. Amorim
– Só
conseguimos vender o nosso peixe, quando também o compramos. Fui a
primeira a acreditar na minha paixão por escrever; depois veio o
gigantesco aval da Harvard University-US,
através dos prêmios literários que lá conquistei. E anos depois,
quando enviei o manuscrito de ‘Mevrouw
Jane’ ao Dr. José
Augusto Carvalho, que é Mestre em Linguística pela Universidade
Estadual de Campinas, e Doutor em Letras pela USP, ele me enviou
email
citando: “Acho que você entrou de pé direito na literatura.” Ao
ler aquela frase daquele gigante na nossa língua portuguesa, eu
celebrei!
Uma outra linguagem da arte que me fascina é cantar! Gosto demais!
Uma outra linguagem da arte que me fascina é cantar! Gosto demais!
A.C.I.M.A. –
Como divulga o seu trabalho? O que você acha
que seria prioritário fazer para divulgar o trabalho dos artistas
brasileiros que vivem no exterior?
Tão
logo o manuscrito de ‘Mevrouw Jane’ ficou pronto para ser
publicado, fiz o meu blog http://josanemary.wordpress.com/
e o
divulguei na minha mídia social. Também enviei press
realeases
para todos os jornais [literalmente] no nosso território nacional.
Foram semanas de intensa pesquisa para que eu tivesse os contatos que
desejava. Ainda contatei inúmeras livrarias no Brasil. Investi no
material promocional: book
trailer,
cartazes, pôsteres e cartões de visita. E seguindo o conselho da
magistral agente literária Laura Bacellar coloquei a boca no
trombone pois auto publicar significava fazer com que as vendas
acontecessem, e que meu livro tivesse alguma exposição na mídia
falada e escrita. Quando o lançamento aconteceu, contei com o apoio
dos meus queridos amigos e da imprensa na minha cidade e no meu
estado, ES. Segui colocando a boca no trombone e batalhando para
disponibilizar o livro em diversas livrarias no território nacional
e internacional; assim como participar de feiras e exposições.
Neste particular, sinto-me extremamente honrada pela oportunidade ao
participar do 26
Salon Internacional du Livre et de la Presse, em Genève;
ainda neste ano de 2012 participarei de outros eventos literários de
vulto: Semana Brasileira da Cultura, em Milão; e BIENAL
Internacional do Livro, em São Paulo.
No meu blog, no tema Passo a Passo, cujo último é o de número VII,
mantenho um registro da minha caminhada na estrada do auto publicar.
Prioritário
seria que
o governo brasileiro, através de suas embaixadas e consulados se
esforçasse para apoiar mais, e sem delongas e burocracias. Tais
entidades deveriam ter um interesse mais abrangente e eficaz para
disponibilizar recursos, assim como os profissionais qualificados
para mapear, desenvolver e divulgar todo a ajuda que pudesse ser
oferecida aos trabalhos dos artistas brasileiros que vivem no
exterior.
A.C.I.M.A.
– Como e porque nasceu a ideia de
escrever o romance Mevrouw Jane e quais seus propósitos e novidades
literárias para 2012?
Josane
M. Amorim
– Meu
objetivo
foi não somente escrever um livro sobre as dificuldades ou os
problemas que passei a vivenciar a partir do momento que vim morar na
Holanda,
mas
sobre o processo e a efetiva superação deles. Por exemplo:
1)
os conflitos na educação de filhastros,
2)
a terapia de casal,
3)
Borderline
Personality Disorder,
4)
solidão pela morte de minha família,
perda do bebê.
Desejei
escrever um romance baseado em fatos reais e que tivesse algo para
oferecer. Eu me transportei para o futuro e escrevi sobre o meu
passado. A maioria das memórias que Mevrouw
Jane relata para Sofia são as minhas. São as vitórias ou os
problemas que enfrentei ou ainda enfrento. Muitos deles, já
praticamente superados, por exemplo: eu e a BPD. Desejei escrever
um livro onde o bem triunfasse no final da história. E contar sobre
a maturidade e candura dos 70 anos de vida de uma personagem como
Mevrouw
Jane foi
absolutamente fascinante! Ela me ensinou tanto!
O
ano de 2012 está me permitindo incríveis oportunidades. Como por
exemplo participar do “Writer
Studio”
em Amsterdam. Trata-se
de um projeto que existe desde 1987, e foi fundado nos USA, por
Philip Schultz, ganhador do prêmio de literatura Pulitzer
Prize-2008.
As aulas acontecem na English
Bookshop,
e a nossa instrutora é também escritora, americana, e ocupa a
cadeira de Literatura Inglesa numa universidade aqui na Holanda.
Estou descobrindo e aprendendo técnicas e estilos objetivando dar
mais contorno e estrutura à minha escrita. Somos dez na sala de
aula; sou a única brasileira e com trabalho já publicado; há 2
canadenses, 1 australiana, 1 holandesa, 3 inglesas, 1 espanhola, 1
romena. Tudo fascinante demais!
A.C.I.M.A.
– Que conselho daria à quem esta
dando os primeiros passos no universo literário no exterior?
Josane
M. Amorim
– Creio
que não faz diferença se no exterior ou no território nacional. O
importante é acreditar no próprio trabalho e não desistir; assim
com aprimorar-se, manter-se bem informado. E obviamente não ser
POSER, pois bonito é quando não fazemos da literatura
um mero elemento de vaidade; quando usamos
o nosso curriculum literário para ter uma relação
calorosa com a palavra, enchê-la com beleza e vigor, e não para nos
enfeitar.
Ter
um trabalho literário de qualidade publicado requer dedicação e
empenho. No mundo literário o preguiçoso só tem vez se for
personagem de ficção. Um dos exemplos mais recentes disso é o da
J.K. Rowley, autora de Harry Potter, que viu por anos o seu trabalho
ser renegado por diversas editoras sem nenhum interesse em publicar
as belas façanhas daquele seu bruxinho. Às vezes não é necessário
somente escrever uma grande obra, é também necessário fazer com
que seja publicada, demore o tempo que for!
Quando
se trata de auto publicar a saga fica mais intensa e demanda não
somente dedicação e empenho, mas investimento financeiro. Contudo,
citando o Poeta Fernando Pessoa: ‘Tudo vale a pena quando a alma
não é pequena.’.
A.C.I.M.A.
– Você pretende (sonha) voltar a
viver no Brasil? Qual
sua opinião sobre o momento “economicamente feliz” que o Brasil
está vivenciando atualmente? Segundo seu ponto de vista será
duradouro?
Josane
M. Amorim
–
Certamente
conto nos dedos a chegada desse glorioso dia! O plano é de dentro de
alguns anos mudarmos para o Brasil, Vitória-ES, onde temos uma
casinha muito aconchegante à beira mar.
Tem
sido maravilhoso ler que a mídia internacional tem dado grande
destaque a crescente economia brasileira. Sim, espero que esse
crescimento seja ininterrupto; que todos nós [brasileiros ou não],
nos beneficiemos de tudo isso. Nosso
país saiu da 16ª
colocação mundial em 1981 para 6ª em 2012, ultrapassando potências
como Reino Unido, Espanha e Itália. Isso é maravilhoso! Com a
descoberta do pré-sal nos posicionamos como o maior detentor de
recursos naturais do mundo. Minhas esperanças são no sentido de que
tenhamos condições de administrar essa posição com dignidade e
sabedoria; e dito isso, faço da preocupação da opinião
internacional a minha: como o nosso país aproveitará este potencial
de crescimento para concretizar sua indústria e seus índices
sociais?
Espero do fundo do meu coração verde-amarelo que
o Sr. Alberto Ramos, economista para a América Latina da Goldman
Sachs Group de Nova York, não tenha
previsto o futuro de nosso país, ao dizer à Bloomberg: “Eles
podem se tornar a Noruega, ou ser como tantos outros países onde o
petróleo não trouxe crescimento e desenvolvimento, è
melhor agir com inteligência e tomar medidas projetando o futuro,
senão isso [a extração de petróleo] pode prejudicar o país”.
A.C.I.M.A.
– Qual é o seu objetivo
no momento? Se desejar
deixe-nos uma mensagem por favor!
Josane
M. Amorim –
VIVER
O “AQUI E AGORA” COM TODA INTENSIDADE QUE EU PUDER, FAZENDO
E OFERECENDO O MEU MELHOR, E AGRADECENDO A DEUS POR CADA MINUTO DA
JORNADA!
Rapidinhas:
ACIMA
- Uma saudade?
JMA
- meus amados: mamãe e meu
irmão!
ACIMA - Um sonho?
JMA
- não diria sonho, mas um
desejo: envelhecer com saúde e dignidade.
ACIMA - Um lugar?
JMA
- qualquer um, desde que
eu me sinta em casa! Porém o coração diz: Vitória, ES.
ACIMA - Uma música?
JMA
- São tantas! "Love is
stronger than pride", de Sade Adu ainda é a canção
que mais me faz viajar...
ACIMA - Uma tristeza?
JMA
- constatar que
milhões ainda morrem de fome, inclusive de amor.
ACIMA - Um barulho?
JMA
- bateção de porta; odeio!
ACIMA - Um cheiro?
JMA
- feijão temperadinho na
hora, com bastante alho! Hummm....
ACIMA - Doce ou salgado?
JMA
- doce; já sentindo também
saudade do salgado.
ACIMA - Destino ou casualidade?
JMA
- destino
ACIMA - Quente ou frio?
JMA
- quente e frio
ACIMA
- Seu hobby?
JMA
- jardinar, ler, e
caminhar ao ar livre com meu cachorro.
ACIMA - Três coisas fundamentarias para ser feliz?
JMA
- 1a. - Reconhecer
que merecemos amor, respeito e apreciação. Dar motivos
para receber tais emoções/valores. Nos oferecer tais
emoções/valores. Nos esforçar para oferecê-las àqueles que
nos cercam, independente do amadurecimento intelectual e
espiritual de cada um.
2a.
- Reconhecer que felicidade não está lá fora, mas dentro de nós;
nós é que temos que encontrá-la.
3a.
- Reconhecer que felicidade não está no passado nem no futuro, mas
no aqui e agora.
ACIMA
- Comida preferida?
JMA
- salada com vários
tipos de folhas: alfaces, rúculas, espinafres, alfafas, figos
secos e sementes de girassol tostada; pão de centeio e uma taça de
vinho rosé.
ACIMA - O que ama?
JMA
- Definitivamente a Deus, a mim
mesma, a minha família, os meus verdadeiros amigos, e a vida em
si tão cheia de fantásticos desafios!
ACIMA - O que não ama?
JMA
- não aprecio a indiferença,
o egoísmo, a preguiça, a avareza.
ACIMA - Um livro?
JMA
- LIFE OF PI, de Yann Martel.
ACIMA - Um filme?
JMA
- São tantos! Contudo "The
Ya-ya sisterhood" tem lugar especial na minha videoteca.
ACIMA - Uma mensagem?
JMA
- Quando objetivamos ser
ajudado ou oferecer ajuda, se estamos centrados/focados, a
nossa energia permanece forte, e a luz ao nosso redor
fica brilhante.
Contato
pessoal:
josaneamorim@gmail.com
Obrigada.
Parabéns pelo seu trabalho!