A “A.C.I.M.A.”
– Associação Cultural Internacional Mandala, sediada na Itália, desde 2011está
realizando o mapeamento dos artistas brasileiros residentes no exterior. Este
projeto “Vitrine do Artista Brasileiro no Exterior” abraça a arte e a
cultura dos povos migrantes em todas as suas formas e manifestações – sejam elas, musicais, literárias, teatrais, artes
plásticas, cinema, dança, fotografia,
folclore, enfim, todas
as expressões artísticas brasileiras.
A.C.I.M.A. – Bem Vindo Evandro, primeiramente, gostaríamos de saber um pouco sobre você: Sua terra natal? Onde vive atualmente e o motivo que lhe impulsionou a viver fora do Brasil?
ERR
– Sou de Recife, Pernambuco, onde nasci em 1962. Sou descendente de
Gregos por parte de mãe, de Portugueses por parte de pai e com uma raiz
nordestina muito profunda (coincidentemente meu sobrenome é Raiz que vem do
Grego Rhiza). Vivi minha infância, que considero ter sido muito feliz, entre os
estados de Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Aos treze anos, depois que meu pai
faleceu, fui morar em Santo André, no ABC paulista. Apesar de ter passado por
algumas dificuldades inicialmente, foi em Santo André que conheci pessoas
maravilhosas, uma família mineira que me “adotou”, podemos assim dizer, e
apesar de nenhum parentesco real, todos me tratavam como um membro da família.
Há vinte anos moro no Japão, vim para cá, por causa de uma proposta de emprego
interessante e também porque minha esposa é descendente de japoneses.
A.C.I.M.A. – Como
foi sua adaptação e quais as maiores dificuldades que encontrou no exterior?
Maiores alegrias? Contou com o apoio de alguma organização que auxilia os
imigrantes brasileiros?
ERR
– Devo dizer que não tive problemas de adaptação, pois desde o início
gostei muito do país e me adaptei facilmente. Inicialmente o grande problema
foi o idioma, apesar de ter estudado algum tempo antes de vir para cá, o que
estudei não serviu praticamente para nada e tive que aprender na marra. Como
único estrangeiro não descendente e consequentemente sem falar o idioma, tive
que superar essa dificuldade logo no primeiro mês em que cheguei. Precisei
provar que o idioma não seria empecilho para exercer minha função no trabalho.
Nunca contei com nenhum organização de auxílio em todos esse tempo em que estou
aqui. Não houve necessariamente nenhuma alegria importante, apenas vários
momentos alegres no decorrer desse tempo. Claro que ter escrito meu livro e
poder publicá-lo foi uma grande alegria. A minha mais recente alegria foi ter
conhecido os escritores e escritoras que vivem no exterior através do Fócus
Brasil em setembro, a Londres, durante o 1° encontro de escritores brasileiros
residentes no exterior.
A.C.I.M.A. – Como e quando se dá o seu primeiro contato com a
escrita? Sobre qual tema você escreve? De onde vem as inspirações para suas
obras literárias? Poderia nos contar um pouco sobre seu (s) livro (s) e
percurso literário?
ERR
– Ler é um quesito
imprescindível para escrever. Ninguém pode se tornar um escritor sem antes ter
sido um bom leitor. Meu primeiro contato com a escrita se deu através da
leitura. Não me recordo de nenhum momento de minha vida em que um livro não
fizesse parte do meu dia. Era frequentador assíduo de todas as bibliotecas das
escolas e dos bairros por onde passei na infância e depois de adulto, as
livrarias e sebos no centro da cidade, os meus pontos preferidos. Ainda estou
no meu primeiro livro, quero dizer, já estou escrevendo o segundo, que é um
complemento do primeiro. Apesar de escrever ficção, escrevi nesse meu primeiro
livro sobre coisas que presenciei, então é uma ficção sobre acontecimentos
reais. Conto uma história sobre duas crianças que se encontram e se atraem por
viverem uma existência solitária. Cada um encontra no outro o apoio para seguir
em frente. Por ser afeicionado por histórias de vampiros, um filme sueco de
vampiros, foi o start para que eu começasse a escrever.
A.C.I.M.A. – Qual foi a pessoa que primeiramente acreditou em seu talento? E qual outra linguagem da Arte tem o seu interesse?
ERR
– A primeira pessoa que levou meu trabalho a sério e me deu uma
grande ajuda, foi uma jornalista brasileira radicada nos Estados Unidos, Sílvia
Dutra. Ela tinha uma coluna no Portal Imprensa, que é um jornal virtual. Vi uma
matéria em que ela falava sobre plágio e deixei um comentário. Naquela época,
eu tinha um grande receio de cometer algum plágio em meu livro, pois havia
usado o tema do filme sueco para escrever minha história. E ela se propôs a ler
e comentar, e fez muito mais que isso, assistiu ao filme e disse-me que eu não
precisava me preocupar porque a história era completamente original. Se basear
em alguma coisa para escrever, é o que normalmente os escritores fazem, plágio
é quando se copia descaradamente o trabalho de alguém. O que eu havia feito,
foi escrever à minha maneira uma história sobre um tema já abordado. Foi também
através de seus conselhos que consegui deixar um pouco melhor o que havia
escrito, pois havia escrito muita coisa que hoje considero um monte de barbaridades.
O escritor
Alexandre Lobão, foi outra pessoa que respondeu a meu contato inicial e me deu
conselhos importantíssimos. Não posso deixar de agradecer a meu amigo Rubens
Maeda, que é um grande empresário aqui no Japão. Ele me deu grande apoio para
que eu conseguisse importar meu livro e divulgá-lo, sem visar em momento algum
qualquer retorno financeiro. Também agradeço ao conselheiro suplente do CRBE
Asía, Wilson Keiiti Hayashida, que foi a segunda pessoa a acreditar em
meu trabalho aqui no Japão. Foi através deles que consegui conhecer todas as
pessoas que me proporcionaram ter ido a Londres em Setembro.
A outra linguagem
de arte que sempre me fascinou foi a música, sempre pensei em um dia me tornar
um músico profissional, mas me faltou talento e perseverança para isso.
A.C.I.M.A. – Como você
divulga o seu trabalho? O que você acha que seria prioritário fazer para
divulgar o trabalho dos artistas brasileiros que vivem no exterior?
ERR – Aqui no Japão
eu divulgo meu trabalho diretamente com o público, vou em eventos ou lugares
específicos e converso com as pessoas, mostro meu trabalho, falo sobre ele. No
Brasil entrei em contato com blogs literários, fiz parcerias.
Acho que o brasileiro que trabalha
com alguma forma de arte no exterior ainda está muito só e por sua própria
conta. É preciso criar mecanismos que apoiem mais quem está se destacando na
promoção de nossa cultura, seja em qualquer modalidade que for. Acho que não é
justo que exista uma comunidade com milhares de indivíduos carentes de cultura,
que existam várias pessoas com trabalhos culturais expressivos e nenhum caminho
que ligue o artista a essa comunidade carente.
Faço minhas as palavras da
escritora Alexandra Magalhães Zeiner, que tive o prazer de conhecer no Fócus
Brazil em Londres:
Para uma divulgação do nosso
trabalho no exterior será necessário primeiramente o reconhecimento do mesmo.
Por exemplo, a Professora Else Vieira, do Reino Unido, e a escritora Mariana
Brasil, da Itália organizaram, juntamente ao maravilhoso time do evento FOCUS
Brazil 2012 em Londres, o primeiro encontro de escritores brasileiros
residentes no exterior. Participei do evento e sementes foram plantadas, o
processo foi iniciado! Trabalhos de alto nível marcaram este encontro.
Esperamos que este tipo de iniciativa possa mostrar a todos os brasileiros,
dentro e fora do nosso país, a riqueza da nossa arte, espalhada pelo mundo,
realizada por filhos do Brasil que optaram por viver longe de casa.
A.C.I.M.A. – Propósitos
e novidades literárias?
ERR
– Estou escrevendo a continuação do meu primeiro livro. Na verdade
não gosto de continuações, mas muitos leitores me escreviam pedindo, então
resolvi fazer. Para o ano que vem, fui convidado para participar de alguns
eventos como a segunda edição do Encontro de Escritores Brasileiros no Exterior
do Fócus Brasil nos Estados Unidos, para a Feira de Livros de Frankfurt, em que
o tema será o Brasil; apesar da distância e dos gastos, vou me esforçar para
poder participar de todos.
A.C.I.M.A. – Que
conselho daria à quem está dando os primeiros passos no universo literário?
ERR
– Primeiro invista no seu talento, por investir eu quero dizer se
preparar fazendo cursos ligados a área, se informar, se atualizar. Procure ver
o que estão fazendo outros autores ligados ao estilo que gosta. Se
enturme, faça amizades com outros autores, procure por pessoas que divulguem
literatura, blogs literários, etc... não fique sozinho. Envie seu trabalho para
editoras que publiquem obras no estilo em que escreve. E o mais importante,
jamais desista; não desanime na primeira e nem na última recusa que receber.
Ter o trabalho recusado faz parte do currículo de qualquer escritor, inclusive
os mais famosos. Envie seu trabalho para que pessoas capacitadas o avaliem, não
adianta pedir para seu melhor amigo ou seu parente querido, eles vão sempre
elogiar o que você fez, e não é disso que você precisa. Analise todas as
críticas recebidas com o bom senso e não com o ego, e conserte o que precisa
ser consertado.
A.C.I.M.A. – Você pretende voltar a viver no Brasil? Qual sua
opinião sobre o momento “economicamente feliz” que o Brasil está vivenciando
atualmente?
ERR – È claro que essa não é uma pergunta que dá para se
responder de uma forma simples e generalizada, mas se for para responder nesses
termos, eu acho que não tenho mais condições de voltar ao Brasil. Tenho certeza
que todos os brasileiros que tiveram a oportunidade de morar em outro país,
exceto em casos em que não há escolha ou em outro caso excepcional, jamais
voltarão ao Brasil em definitivo. Eu amo o Brasil, sinto falta da minha terra,
sinto falta dos meus entes queridos, amigos e familiares; mas no Brasil as
oportunidades ainda são poucas e limitadas.
Em todo esse momento em que estou distante do Brasil, uma coisa eu
tenho certeza, alguma coisa mudou para melhor, me surpreendi há algum tempo com
a quantidade de amigos e parentes que ingressaram em um curso superior. Alguns
que haviam abandonado a escola ou desistido de fazer um curso universitários há
vários anos, para mim foi o sinal de que estão ocorrendo mudanças. Mas, o
ensino público no Brasil ainda é lastimável, é preciso mais investimento em
educação e saúde pública. Um profissional que não é bem remunerado, não se
sente incentivado a dar o melhor de si, porque estará mais preocupado em sobreviver.
É lógico, existem muitos outros setores essenciais na sociedade brasileira como
um todo necessitando de investimento. Por isso, acho que ainda falta muito para
que o Brasil chegue a um patamar economicamente feliz, na minha opinião, essa
felicidade ainda está ao alcance de poucos.
A.C.I.M.A. – Qual é o seu objetivo no momento?
ERR
– Particularmente falando, é o que citei anteriormente, participar
de mais eventos e encontrar com outras pessoas que divulguem nossa cultura pelo
mundo. Em termos gerais, divulgar mais a nossa cultura, tentar conquistar
espaços aqui no Japão e no exterior, já que não estou sozinho nessa empreitada.
Unir forças com outros brasileiros espalhados pelo mundo e cobrar mais apoio
aos nossos governantes, dirigentes e entidades que se beneficiam da nossa
comunidade no exterior, que com certeza não é inexpressiva. Principalmente ter
retorno em forma de benefício, cultural, educativo e de saúde; que são os
pontos mais carentes de nossa comunidade no exterior.
A.C.I.M.A. –
Se desejar deixe-nos uma mensagem por favor!
ERR – Gostaria de agradecer a movimentos espontâneos como o da
A.C.I.M.A., Varal do Brasil e tantos outros; a entidades e pessoas que se
preocupam e que estão trabalhando voluntariamente para divulgar e proteger
nossa comunidade e propagar nossa cultura, seja no Brasil, ou no exterior. Essas
pessoas estão sim fazendo a
diferença. O meu muito obrigado!
Rapidinhas:
ACIMA - Uma saudade?
ERR – Família
ACIMA - Um sonho?
ERR – Escrever em tempo integral.
ACIMA - Um lugar?
ERR – Brasil
ACIMA - Uma música?
ERR – Don’t let the sun go down on me.
ACIMA - Uma tristeza?
ERR – Foram suplantadas pelas alegrias
subsequentes.
ACIMA - Um barulho?
ERR – O brado dos que não se subjugam às
adversidades.
ACIMA - Um cheiro?
ERR – O da comida da mamãe.
ACIMA - Doce ou salgado?
ERR – Os dois.
ACIMA - Destino ou casualidade?
ERR – Acredito que tudo seja casual, nada
é predestinado.
ACIMA - Quente ou frio?
ERR – Sou Pernambucano, adoro um
calorzinho.
ACIMA - Seu hobby?
ERR – Escrever.
ACIMA - Três coisas fundamentais
para ser feliz?
ERR – Família, amigos e realização
profissional.
ACIMA - Comida preferida?
ERR – Sushi.
ACIMA - O que ama?
ERR – A família, os amigos e a natureza.
ACIMA - O que não ama?
ERR – A injustiça.
ACIMA - Um livro?
ERR – Dom Casmurro.
ACIMA - Um filme?
Let the right one in.
ACIMA - Uma frase de sua autoria?
ERR – Na natureza a única regra existente
é a da sobrevivência, o homem subverteu essa regra está no topo da cadeia
alimentar.
ACIMA – Seu lema?
ERR – Seguir em frente, independente de
tudo.
ACIMA – Um agradecimento?
ERR – Aos amigos e companheiros na luta
diária, a Mariana Brasil e a A.C.I.M.A. pela oportunidade, muito obrigado.
Contato e-mail pessoal do autor: evan@dekawriter.jp
ACIMA – Evandro, muito obrigada por suas palavras e por compartilhar conosco detalhes de seu romance: “Não deixe o sol Brilhar em Mim...
Luz
... Sempre mais luz...
Nessun commento:
Posta un commento