A “A.C.I.M.A.” – Associação Cultural Internacional Mandala esta realizando o mapeamento dos artistas brasileiros residentes no exterior. Este projeto (Vitrine dos Artistas Brasileiros no Exterior) abraça a arte e a cultura dos povos migrantes em todas as suas formas e manifestações – sejam elas, musicais, literárias, teatrais, artes plásticas, cinema, dança, fotografia, folclore, enfim, todas as expressões artísticas brasileiras.
A A.CI.M.A. – Associazione Culturale Internazionale Mandala, entrevista a escritora Mara Parrela que reside na Holanda.
A.CI.M.A. – Primeiramente, gostaríamos de saber um pouco mais sobre você: de onde vem, qual sua terra natal? Onde vive atualmente, há quanto tempo? E o que a impulsionou a deixar o Brasil?
Mara Parrela – Sou mineira de Belzonte. Vivo na Holanda há uma quinzena de anos. Vim para a Holanda invejando algumas amigas casadas com holandeses mais jovens que elas, super dedicados à família e seríssimos em seus relacionamentos. As duas a quem “invejava” já estão no segundo casamento. Eu comemorei recentemente 12 anos e meio de casamento com o mesmo. A metade de 25. Uma data bem marcante para os holandeses.
A.CI.M.A. – Como e quando se dá o seu primeiro contato com a escrita? Qual é sua formação?
Mara Parrela – Me formei em Comunicação Social. A minha habilidade pela escrita já se revelou desde o tempo em que comecei com as letras. No mesmo tempo em que nascia o meu ódio pela matemática. Trabalhei em vários jornais do Brasil, escrevia colunas e desde que vim para a Europa, sou correspondente da Holanda para os Estados Unidos.
A.CI.M.A. – Qual foi a pessoa que primeiramente acreditou em seu talento ?
Mara Parrela – Acho que meus chefes que me contrataram para os jornais que trabalhei. Jornal Ultima Hora do Rio de Janeiro, Brazilianpress nos Estados Unidos e O Jornal do Salomão em Palmas no Tocantins.
A.CI.M.A. – De onde vem as inspirações para suas obras? Quais são suas principais influências?
Mara Parrela – Fatos verídicos.
A.CI.M.A. – Qual outra linguagem da Arte tem o seu interesse? Música, cinema, teatro, etc...
Mara Parrela –Cinema e Música: Ontem assisti Midnight em Paris, do Wood Allen. Um escritor pode tudo, como a um poeta. Como diria Gilberto Gil, na música “Metáfora”.
“Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.”
Eu já fiz teatro em outras épocas também e acho que seria uma atriz muito boa, pois decorava a minha fala e a dos outros, era (e sou) super dedicada a todo tipo de trabalho, me comprometo, me envolvo.
A.CI.M.A. – Como você expõe seu trabalho? O que você acha que seria prioritário fazer para divulgar o trabalho dos artistas brasileiros que vivem no exterior?
Mara Parrela – Eu não faço publicidade do meu trabalho. Tem gente próxima que nem sabe que tenho um livro escrito, premiado. Quando tenho oportunidade, quando me convidam, quando convidam, de boca em boca, mas quase não crio estas oportunidades. Já são quase 3 anos do lançamento, já deveria estar lançando outro.
Penso que iniciativas culturais que incentivam o intercâmbio entre os brasileiros residentes na Europa seja uma excelente oportunidade de divulgar o trabalho dos artistas brasileiros. E também fora da Europa.
Participei do 1° Encontro de Escritoras Brasileiras em Nova Iorque há dois anos, e lá, além de encontrar escritores e tradutores renomados, ainda tive oportunidade de conhecer novos talentos da literatura brasileira e elas também, de conhecer o trabalho que fiz.
Parei tudo agora por absoluta falta de tempo e o desafio de um novo emprego em tempo integral para uma dona de casa da Europa, sem empregada ou babá, com filho na pré-puberdade e um marido mais jovem que eu, cheio de energia aos 40.
A.CI.M.A. – Que conselho daria a uma jovem aspirante escritora?
Mara Parrela – Exercícios diários da escrita. Ao final de um bom tempo, já teria material suficiente ou para editar um livro ou para uma coletânea de crônicas. Participar de eventos, lançamentos, fazer contatos, intercambiar etc. E ler muito para se atualizar e reciclar.
A.CI.M.A. – Você conseguiu se adaptar à cultura holandesa? Tem planos ou sonha um dia voltar a viver no Brasil?
Mara Parrela – Hoje já sei como funcionam as coisas e as pessoas. Uma vez me perguntaram o que não tinha aprendido a fazer na Holanda. Respondi que não sabia limpar as janelas imensas de casa, para ficarem bem limpinhas, com a impressão de nem ter vidros. Quem fazia este trabalho em casa era o meu marido, sempre. Experiência de holandês. Embora já tenha aprendido a fazer isto por extrema necessidade, em casa, quem ainda faz é ele. Mas esta experiência me fez ver que me integrei quase que totalmente.
No dilema entre “Aqui e Lá” (título do meu livro), já experimentei voltar a viver no Brasil. Larguei tudo, levei apenas meu filho comigo, seria definitivo, não sentia a menor necessidade de voltar a viver na Europa. Mas o resultado não foi o esperado. Voltei depois de 8 meses. E a volta, me deixou mais fortalecida, quis me dar uma segunda chance de me integrar e ao mesmo tempo, voltar a ser aquela que sempre fui: destemida, positiva, lutadora.
Estamos construindo uma casa em um lugar lindo no Brasil, para as férias anuais, quanto à voltar a viver no Brasil, penso que pelo menos vai demorar 20 anos, mas na verdade acho improvável que isso aconteça, tanto eu quanto a minha família, temos uma melhor qualidade de vida aqui.
A.CI.M.A. – Na sua opinião, quais são as maiores dificuldades que a mulher brasileira encontra na Holanda? Poderia nos falar sobre o trabalho que desenvolve a “Casa Brasil na Holanda”?
Mara Parrela – O maior problema é o pesadelo de viver prisioneira do próprio destino. Migrar para a Holanda, achar que encontrou o príncipe encantado, abrir mão da personalidade, da nacionalidade.
Não estou mais ligada à associação Casa Brasil Holanda. Desde agosto deste ano (2011), deixei a presidência, mas sei que o trabalho que tivemos de fundar uma associação desta natureza, rendeu os frutos pelos quais lutamos por mais de dez anos. E sabemos que o trabalho de informação, orientação e monitoramento das brasileiras que vivem (e sofrem) neste país, ainda continua através das bravas voluntárias brasileiras, queridas Clivia Caracciolo e Helena Bes.
Desejo sucesso para a A.C.I.M.A, para a Casa Brasil Holanda e que se fortaleçam para ajudar o maior número de brasileiros e brasileiros em todas as áreas na Europa. Obrigada.
Mara Parrela
A.C.I.M.A. – Muito obrigado Mara Parrela!!!
Esperamos que seja cada vez mais iluminada em seu trabalho.